O Orador: - Sobre a greve não vale a pena estarmos a falar durante mais tempo. Estamos numa interpelação sobre política geral e, tal como o Sr. Deputado Sousa Tavares disse, penso que não deveríamos centrar as questões sobre a greve.

No entanto, o que a mim me chocou foi a continuada persistência de um deputado da bancada do Partido Comunista em falar de histeria anticomunista, de continuar a dizer que a AD põe as liberdades fundamentais em causa, ...

O Sr. Carlos Espadinha (PCP): - Ainda tem dúvidas? ...

O Orador: - ... de dizer que o Governo mostrou - segundo constatei das suas palavras -, mais uma vez, a sua face totalitária, que vastos sectores democráticos, não da AD, demonstraram não ser verdade os últimos acontecimentos da própria greve.

De facto, pergunto a mim mesmo e gostaria também de perguntar ao Sr. Deputado Jerónimo de Sousa se toda esta histeria anti-AD de que muitas vezes os deputados do Partido Comunista dão mostras, se toda esta histeria da criação de um fantasma, de um inimigo do regime democrático e das conquistas de Abril não será uma certa nostalgia que o Partido Comunista tem porque, infelizmente, durante dezenas e dezenas de anos muitos dos seus militantes passaram pelas cadeias antes do 25 de Abril.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - Não será isso o que hoje faz correr o Partido Comunista numa estratégica cega a todo os títulos e incompreensivelmente para todas os sectores democráticos? Não será a nostalgia da clandestinidade, a nostalgia das prisões? Será esse o vosso trauma, Srs. Deputados?

Protestos do PCP.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, peço-vos o

favor de manterem a calma e de não interromperem

o orador.

Aplausos do PPM, do PSD e do CDS.

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, se assim o desejar.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): - Sr. Deputado Luís Coimbra, de facto a sua inteligência e as suas vistas estão em proporção ao seu partido.

Risos do PCP.

Dizer que a greve foi um fracasso, dizer que eu vim aqui apenas falar da greve, é esquecer todo o quadro em que situei os fios condutores que levaram à greve geral, Sr. Deputado. Creio que aqui nesta Assembleia não há nenhum surdo e V. Ex.ª tem que reconhecer que o pior cego é aquele que não quer ver.

Realmente falei nos tectos salariais, no aumento de desemprego, na vida cara, nos preços da saúde e de diversas questões que tocam directamente com os interesses do povo português. Portanto, foi isto o que levou àquela grande acção de massas que o senhor diz que foi pequenina.

Na verdade, falei em centenas de milhar para depois na parte final da minha intervenção dizer que é um milhão e quatrocentos mil trabalhadores. Ou será que um milhão e quatrocentos mil trabalhadores não são centenas de milhares, Sr. Deputado? Não sabe matemática?

Risos do PSD, do CDS e do PPM.

O Sr. Deputado perguntou se aquilo que nos faz correr não é a nostalgia da clandestinidade. De facto, não abdica-mos do orgulho que temos da luta pela liberdade antes do 25 de Abril. Eu sou jovem e ainda não senti muito isso, mas encontram-se na minha bancada alguns camaradas que podem falar muito melhor do que eu e que me deram o exemplo de como é que se luta pela democracia e pela liberdade. Na realidade, não queremos voltar a esse tempo da ditadura, a esse tempo da clandestinidade.

Aplausos do PCP e do MDP/CDE.

O Partido Comunista Português assenta a razão da sua existência na defesa dos interesses das massas populares, do povo e da democracia portuguesa. Por isso mesmo não precisamos dos seus conselhos e da sua ajuda paternal, porque o PCP é uma força indestrutível e necessária à democracia portuguesa.

Aplausos do PCP e do MDP/CDE.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Veiga de Oliveira.

O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: O Sr. Deputado Sousa Tavares foi aqui advogado constituído do Sr. Ministro Ângelo Correia que, por razões que ignoramos, não fez ainda aparição neste debate.

O Sr. César de Oliveira (UEDS): - Aparição triunfal!

O Orador: - Mas a sua defesa, por sobresser de uma causa perdida, foi desastrada. E foi-o pelas razões que vou apontar.

O Sr. Deputado limitou-se a tentar justificar uma intervenção que assume foros de pornografia política como foi a intervenção do Sr. Ministro da Admi-