Num outro dia, ao perguntarem-me qual seria a atitude a tomar perante a onde de greves, tive ocasião de dizer que, muito simplesmente, era a paciência: aguentar e respeitar o direito à greve.

Em democracia é preciso ter paciência e aguentar. O povo eleitor é que julga, como juiz, de 4 em 4 anos.

Evidentemente que os governos não podem andar a flutuar de 3 em 3 meses porque senão não temos democracia possível.

O nosso ideal - foi dito por todos os teóricos da democracia - é no sentido de que os governos deviam coincidir com as legislaturas. Portanto, se este governo coincidir com a presente legislatura, dar-se-á um grande passo em frente na maturidade democrática do País.

Era isto que queria que o Sr. Deputado Magalhães Mota aclarasse de forma a explicar o seu raciocínio.

Aplausos do PSD, do CDS e do PPM.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Silva Marques.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Sr. Deputado Magalhães Mota. V. Exa. fez um discurso baseado numa figura filosófica de apreciação da Nação portuguesa.

A metodologia que seguiu é discutível, mas, de qualquer modo, pretendia apenas chamar-lhe a atenção para que, nesse campo, V. Exa. cometeu um rotundo corte metodológico. Isto é, o Sr. Deputado pretendeu analisar a Nação chegando a conclusões terrivelmente pessimistas.

Disse que a Nação não tem que lhe imprima acção, quem a corporize num projecto, quem a faça estremecer, quem à galvanize. É eventualmente uma conclusão que aliás, como todas as conclusões teóricas, tem uma parte de verdadeiro e de falso.

Mas é a ruptura metodológica que me interessa porque transformou o discurso de V. Exa., tipicamente, naquilo que chamou, de forma desajeitada, sebastianismo, que condena.

O seu discurso, Sr. Deputado, é tipicamente sebastianista, porque ao dizer que a Nação está morta tira como conclusão, não que tudo está morto na não há rasgo dos rasgos que galvanizem a Nação em bloco - é porque considera que o grande mal da democracia é a sobriedade dos cidadãos, face a todos eles; é porque V. Exa. considera que, mais do que os galões ou os frontões que representam a Pátria, mais do que isso, o que dá carácter ético e vivacidade a um povo é a liberdade, o que vale mil vezes mais do que todos os frontões que podem pretender engalanar uma nação - a liberdade, a igualdade, o prosaísmo.

Aquilo que V. Exa. decerto considera prosaico é a liberdade. E é por isso que V. Exa. pode estar certo de que a Nação não está morta, não porque alguém tenha de vir vivificá-la de fora, mas porque a maioria funciona, e espero que a oposição também funcione.

Aplausos do PSD, do CDS e do PPM.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): - Nunca mais chega à primeira fila!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Magalhães Mota para responder.

O Sr. Magalhães Mota (ASDI): - Agradeço quer a intervenção do Sr. Deputado Sousa Tavares, quer a do Sr. Deputado Silva Marques, que me permitem clarificar algumas coisas que não tenha deixado suficientemente claras.

Direi em primeiro lugar ao Sr. Deputado Sousa Tavares, que só não vejo com satisfação que ele compartilhe da minha vontade de chorar e do meu de profundis, porque me não pareceu que esse acto de contrição, na sua posição de apoio ao Governo, fosse sincero.

Creio que todos nós temos, de facto, alguma coisa a lamentar e todos nós, que nos sentimos unidos pelo mesmo ideal patriótico, sem grande eloquência das palavras, sentimos, necessariamente, na nossa carne e na nossa esperança, os defeitos deste governo. Isto não é, pois, motivo para que nos alegremos.

Gostaria de dizer-lhe que, muito ao contrário do que me parece ter resultado da interpretação que fez da minha exposição, não considerei inútil esta moção de censura. Pelo contrário, considerei que ela

O Sr. Sousa Tavares (PSD): - Era o que faltava!

O Orador: - O lugar da sua pessoa tem alguma importância e o próprio Deputado Sousa Tavares