Vozes da UEDS e do PS: - Muito bem!

A Oradora: - No plano colectivo, os sinais não são menos: são novas formas, mais subtis, de fraude e evasão fiscal; é a multiplicação dos circuitos económicos paralelos; são os negócios escuros, a que muitos não resistem; é a inconsciência ecológica a que só alguns conseguem escapar ... É, em suma, a lei do «salve-se quem puder», implícita ou explicitamente aceite como norma de convivência comunitária.

Tem o Governo, uma vez mais, algo a ver com tudo isto?

A resposta é inequívoca: tem. E não apenas ao nível das decisões e medidas de que é autor, mas ao nível do próprio estilo de governação que para si mesmo adoptou.

Quando um ministro, em tom de humor, se queixa, em país estrangeiro, de que «o seu salário mal dá para os charutos» ou quando um deputado da maioria afirma, sem peias, a um órgão de comunicação social nacional que o seu salário de parlamentar «só dá para almoços», é o estilo do Governo e da maioria que o apoia que despudoradamente se mani festa!

Aplausos da UEDS, do PS, da ASDI e do MDP/CDE.

O Sr. Carlos Robalo (CDS): - Não apoiado!

os velhos silêncios amedrontados de quem não sabe o que lhe irá acontecer se fizer greve...; repercute-se na desmobilização de muitos grupos de base: e vai na macroescala, até ao afunilamento das nossas relações com outros povos, ao nosso alinhamento em estratégias de reforço dos grandes blocos, à redução progressiva do País à condição de satélite que durante largos anos foi a sua.

E isto com um governo que se tinha proposto (reli há poucos dias o manifesto eleitoral da AD) unir os Portugueses!

Unir os Portugueses, quando se favorecem uns e se estigmatizam outros? Unir os Portugueses, quando a TV e a rádio transmitem sistematicamente notícias unilaterais, em que só minorias se reconhecem? Unir os Portugueses, quando as desigualdades económicas tendem a acentuar-se cada vez mais? Unir os Portugueses, quando uns vêem os seus aumentos salariais cifrados em quase metade do que é permitido a outros? Unir os Portugueses, quando não há projecto, não há horizonte, não há metas que não sejam as de afinar os nossos dossiers pelos modelos do Mercado Comum?

Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros; do Governo: A travessia do deserto já vai longa, e não gostaríamos de lhe pôr fim sem apontar o que para nós é caminho e proposta de um Portugal diferente.

Proposta de uma democracia plena, onde cada um seja sujeito e não simples objecto das decisões que lhe dizem respeito; onde os grupos e associações de base encontrem o apoio e o estimulo de que carecem; onde os diferentes interesses sejam verdadeiramente conciliados em função do bem comum da sociedade; onde cada um tenha assegurado não só o pão e a liberdade, mas também a dignidade de cada dia.

Proposta de um modelo de desenvolvimento genuinamente nosso, em que a prioridade absoluta seja dada à satisfação das necessidades básicas da população mais carenciada; em que os padrões de bem-estar não sejam ditados de fora para dentro; em que a qualidade conte mais do que a quantidade; em que as medidas políticas se não baseiem exclusivamente na lógica dos números, em que o aumento da riqueza no imediato não se faça à custa do empobrecimento humano e ecológico das gerações presentes e futuras.

Proposta de uma freme cultural dinâmica e alargada, onde as massas populares retomem, ou melhor, recriem, a sua palavra; onde a comunicação social seja estímulo, e não bloqueio à criatividade colectiva; onde os criadores culturais vitalizem e interpelem os valores e as práticas dominantes; onde cultura e política não continuem dissociadas, antes se recundem mutuamente nas decisões e opções que a cada governo cabe fazer.

Proposta de novas formas de solidariedade internacional, onde o nosso país se afirma na riqueza e na originalidade do seu modo de ser e da, sua história; onde o nosso «alinhamento» seja sempre ao lado dos que procuram uma maior justiça nas relações entre os povos; onde as relações e as trocas se multipliquem de forma tão diversificada quanto possível, de modo que a nossa soberania nacional não corra,