fundamentarem a sua legalidade, para desmentirem as calúnias sobre eles bolsadas, para reporem a verdade à caradupa de mentiras com que se afogou o País. Numa palavra: o Governo usou de todos os meios para impedir o exercício do direito à greve que a Constituição consagra e as leis da República regulam. O Governo usou de todos os meios, dos mais afrontosos num regime democrático, para impedir que os trabalhadores portugueses usassem de um direito que lhes foi negado> durante dezenas de anos e que, apesar disso, muitas vezes praticaram no tempo do fascismo à custa de sacrifícios que foram ate à dúvida da própria vida. Ao tentar impedir o exercício de um direito que os trabalhadores finalmente conquistaram com o 25 de Abril, o Governo mostrou como está divorciado da democracia, da Constituição e das leis da República. Mostrou que está em conflito aberto com elas.

Como responderam os trabalhadores a essa actuação do Governo? Responderam a todas essas provocações, ameaças e mentiras com a maior serenidade e calma, com a maior dignidade e disciplina. Praticamente em parte nenhuma do País se registaram conflitos de qualquer natureza. Praticamente as forças de segurança não tiveram razões nem pretextos para exercer a sua acção em qualquer ponto do território. Pode dizer-se, sem receio de desmentido, que apesar do ambiente de tensão social promovido pelo Governo, e País viveu em ordem, e em paz o dia de uma greve geral em que estiveram envolvidos cerca de um milhão e quatrocentos mil trabalhadores.

Vozes do PSD: - Que desplante! Que exagero!

democrática: quando os problemas concretos da vida nacional que afligem a generalidade dos cidadãos são resolvidos. É assim que se afirma a autoridade do Estado democrático.

Este discurso não é, evidentemente, o discurso da AD e do governo da AD. Já o sabíamos! Mas logo tivemos aqui mais uma prova de qual é a concepção de ordem do Ministro da Administração Interna e do Governo em que está integrado, qual é a sua concepção de Estado e da autoridade do Estado.

Risos do PCP, da UEDS e do MDP/CDE.

Vê-lo e ouvi-lo foi um espectáculo! Mau actor, com os dados da «insurreição» mal cozinhados, o Sr. Ministro da Administração Interna andou para trás e para a frente, num português pouco seguro; ora parava, ora arrancava e lá chegou ao fim com alguma dificuldade.

Risos do PCP, da UEDS e do MDP/CDE.

A qualquer observador atento e minimamente informado do que se passara no dia da greve geral, a «charla» do Sr. Ângelo Correia cheirou logo a chamusco. Mas dezenas de milhares de cidadãos comuns, para quem um ministro deve ser um homem de honra e não um irresponsável, ficaram com certeza perturbados com uma tal comunicação.

E o País ficou a aguardar que o Ministro da Administração Interna, responsável pela ordem pública, viesse logo a seguir explicar que «insurreição» era essa, quem a preparara, como se desenvolveria, que fins tinha. O Ministro Ângelo Correia, porém, ficou-se calado, com o seu segredo fechado a sete chaves.

E tendo tido um momento soberano, 3 dias depois, para esclarecer o País aqui nesta própria Assembleia, durante a interpelação ao Governo promovida pelo Partido Socialista, o Sr. Ângelo Correia...

O Sr. Portugal da Fonseca (PSD): - O Sr. Ministro...!

O Orador:- ...nem apareceu aqui - apesar de desafiado para o fazer e apesar de ter estado na altura metido numa sala deste Palácio -, nem disse nada.

O Sr. César de Oliveira (UEDS): - Muito bem!

O Orador: - Toda a gente queria saber e, pelo que hoje não ouvimos, continuará a querer saber como foram essas tais barragens montadas pela GNR, numa das quais morrera atropelado um cabo, pelos vistos num mero acidente de viação provocado pelo nevoeiro; como fora isso da pressão de um automóvel no Parque Eduardo VII, onde estavam uns sujeitos com umas armas, papéis e cassetes até mesmo às escâncaras.

O Sr. César de Oliveira (UEDS): - Muito bem!

O Sr. César de Oliveira (UEDS): - Muito bem!