A intervenção e a actuação do Sr. Ministro da Administração Interna - e do Governo - foram coisas que o Governo quis esquecer, gostaria de esquecer, mas que não podemos deixar que caia no esquecimento.

O Sr. César de Oliveira (UEDS): - Muito bem!

O Orador: - Compreende-se e aceita-se esta atitude por parte de um governo e de um ministro que desdizem hoje, com a maior das facilidades, o que afirmaram ontem.

Disse o meu camarada César de Oliveira que o combate político à greve era legítimo se conduzido estritamente nos quadros impostos pela Constituição. Reafirmamos esta posição, só que o Governo, como ficou provado ao longo deste debate aqui travado, exorbitou desse quadro, criou todo um clima alarmista e de coacção e inventou uma insurreição, misturando factos e deturpando a natureza de ocorrências normais, mormente quando as forças policiais se mobilizam e estão no terreno para as operações.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Mas será que toda esta insurreição inventada terá sido, pura e simplesmente, obra da imaginação do Sr. Ministro da Administração Interna? Terá sido ele o único responsável? Os Srs. Membros do Governo aqui prementes quiseram deixar-nos essa ideia, quiseram apresentar-nos o Sr. Ministro da Administração Interna como o bode expiatório.

Mas a verdade é que o Sr. Ministro da Administração Interna foi apenas um instrumento do Governo na condução de uma política em que, perante o descrédito crescente desse governo e a redução da sua base de apoio, se procura a construção de factos que tenham o afeito de desviar as atenções. Trata-se, pois, de, uma política que procura construir um inimigo interno, procura criar um clima de insegurança, procura, por essa via, justificar a sua própria actuação, tentando imprimir no espírito dos Portugueses esta ideia: ou nós ou o caos, ou nós ou a insurreição, ou nós ou o terrorismo.

Uma voz do CDS: - Ámen!

O Orador: - O Sr. Ministro da Administração Interna e os Srs. Membros do Governo falaram aqui do aproveitamento da greve. Disseram que o apelo a uma greve geral constituía, por si só, a criação de um clima que seria passível de um aproveitamento para fins diversos dos que estavam nos propósitos daqueles que tinham apelado à greve.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Não foi isso!

tendo eu cessado as funções de Ministro da Agricultura 5 dias antes do atentado, se possa, por essa coincidência ou convergência, ver nisso não uma prática de terrorismo urbano, mas de terrorismo rural.

Risos do PS e do PCP.

Em relação aos outros, ó relativamente difícil encontrar uma explicação minimamente lógica.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Nós não acusamos este governo de ter intuitos ditatoriais, de ter no seu horizonte propósitos totalitários. Mas, atenção: quando se dispõe dos meios que este governo tem, quando se usam como este governo os usa, quando cada vez mais o recurso a esses -meios é a única hipótese de sobrevivência do Governo, as tentações são muitas, e é para essas tentações que queremos alertar os responsáveis governamentais, chamando-lhes muito claramente a atenção para o caminho para que, a prosseguir-se nas práticas que. têm sido seguidas, poderemos ser conduzidos.

Vozes do CDS: - Não apoiado!

O Sr. Borges de Carvalho (PPM): - Muito fraco, muito fraco!