O Orador: - ... desse homem durante esses dias até haver o esclarecimento completo da situação?

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Muito bem!

O Orador: - Mas julgo que o mais importante será, sem dúvida, a questão política. Perguntava o Sr. Deputado César Oliveira se isto não é uma questão de um homem que sofre de delírio constante, se não se trata apenas de um caso de petulância, de pouca inteligência. É isso mesmo, mas não é só isso, Sr. Deputado: homens petulantes e pouco inteligentes há muitos, mas Angelo Correia ocupa o cargo de Ministro da Administração Interna!

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Angelo Correia é o homem que detém peças fundamentais da segurança e da ordem pública em Portugal; é o homem que comanda as polícias.

Permitam-me, Sr. Presidente, Srs. Deputados, que refira aqui um exemplo passado há algum tempo: num conflito laborai estavam concentrados, perante 150 polícias de choque e um pelotão da GNR, armada de G3, cerca de 1000 trabalhadores. A situação agudizou-se e quase ocorreram graves acontecimentos devido ao facto de a GNR ter chegado a puxar a culatra atrás para disparar sobre a multidão. Todavia, o conflito resolveu-se e quando eu estava a passar por um cabo da GNR, ele abordou-me dizendo: «então, Sr. Deputado, isto esteve muito mau!». Era verdade! Assim, eu coloquei-lhe a seguinte questão: «o sr. guarda e os seus colegas eram capazes de disparar sobre aqueles trabalhadores que estavam ali desarmados?» Perante este pergunta, ele, com uma sinceridade brutal, sem ódio sequer, mas com uma sinceridade que me chocou profundamente, disse--me que se o comando mandasse eles disparavam.

O Sr. Silva Marques (PSD): O que é que isso tem a ver com o assunto?

O Orador: - Tem a ver sim, Sr. Deputado, porque o comando é, precisamente neste momento, Angelo Correia, que é capaz de difamar um cidadão aqui, em plena Assembleia da República.

Aplausos do PCD, da UEDS, do MDP/CDE e de alguns deputados do PS.

Sr. Deputado Silva Marques, um homem que tem um comportamento destes aqui, na Assembleia da República - não é à mesa do café, não é um aparte que nós travamos aqui uns com os outros, não é uma conversa de corredor, mas sim um discurso ali, na tribuna da Assembleia da República -, que assume imediatamente uma carga e uma responsabilidade políticas, mas que não se privou de enlamear nem a honra nem a dignidade de um cidadão, não é um homem qualquer, é um Ministro da Administração Interna, um homem que quer ter um serviço de informações.

Sr. Deputado, eu pergunto como é que é possível um homem desta natureza ser comando, ter na mão os comandos da polícia portuguesa.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Sr. Silva Marques (PSD): - Dá-me licença que o interrompa, Sr. Deputado?

O Orador: - Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Silva Marques (PSD): - O Sr. Deputado está a fazer extrapolações que, evidentemente, se podem enquadrar no uso da liberdade de expressão. No entanto, são extrapolações.

Ora, se V. Ex.ª está a ser tão intrépido nas suas extrapolações, imagine o que nós poderíamos dizer de VV. Ex.ªs, que são uma bancada confessadamente contra a democracia e, no entanto, estão permanentemente a fazer o papel dos grandes defensores da democracia.

Protestos do PCP.

Aplausos do PSD e do CDS.

Face a extrapolações dessa natureza, Sr. Deputado, VV. Ex.ªs são pela democracia ou são contra a democracia? Já que está tão tentado a fazer extrapolações relativamente a um incidente aqui ocorrido, daí partindo em voo para pôr em causa a seriedade do Governo, a solidariedade da maioria relativamente ao Governo, ...

O Sr. Lopes Cardoso (UEDS): - Tenha juízo!

O Sr. Mário Tomé (UDP): - O que é que isso tem a ver com as calças?

O Sr. Silva Marques (PSD): - ... faça, então, extrapolações sobre a sua própria bancada se, realmente, está predisposto a isso.

O Orador: - Sr. Deputado Silva Marques, eu procurava fazer a minha exposição de modo a apresentá-la com uma certa serenidade...

O Sr. Silva Marques (PSD): - Então faça!

O Sr. Silva Marques (PSD): - Diga lá, a propósito de democracia.