antes mesmo de tentar esclarecer que não ia fazer qualquer depósito, recebeu uma cotovelada cúmplice: Andamos todos ao mesmo!...

Risos gerais.

É este o panorama. Este o sintoma grave da total confiança na nossa moeda, na nossa economia, no nosso Governo.

É esta a nova cruzada: a fuga ao espaço económico português. Um gesto cúmplice de cotovelo é, porventura, o seu sinal da cruz.

Vozes do PS: - Muito bem!

E tudo isto porque? Só porque o fantasma de uma recessão com a gravidade da dos anos 30 começa a perturbar os espíritos e a condicionar as vontades! Só porque o dólar não pára de se valorizar?

Não seguramente.

Também porque não basta que o Primeiro-Ministro esteja satisfeito consigo mesmo, mister se fazendo que o País esteja satisfeito com o Primeiro-Ministro.

Sejam francos: vivem os portugueses como deve viver um país em crise e na perspectiva do seu agravamento? Será este o momento mais adequado a que aparentemente nada se faça para evitar:

Que continuemos a produzir o correspondente a apenas 80% das nossas necessidades?

Que continuemos a importar cerca de 50% daquilo que comemos?

Que continuemos a importar 80% da energia que consumimos?

Que o défice da balança de transacções correntes bata em cada ano de governo da AD o seu próprio record e atinja cifras tão elevadas que nos aproximam do limite da nossa capacidade de endividamento externo?

Que a dívida externa continue a mais do que duplicar em cada 3 anos de gestão da AD, tendo já ultrapassado o plafond nominal da garantia das reservas do Banco Central?

Que possuamos - com inveja dos países sem mar - uma zona económica exclusiva de 480000 milhas quadradas e importemos cada vez mais peixe?

Que continuemos a só transportar na frota mercante portuguesa 10% a 15% da nossa carga marítima e ao mesmo tempo a deixar que se abeirem da falência, por falta de encomendas, os nossos estaleiros de construção e reparação naval?

Que continuemos sem distribuído e tão mal usado, em que se fala de menos talvez por no petróleo se falar de mais?

Que continuemos a importar o gado que produzimos, que outra coisa não é produzi-lo à base de rações feitas a partir de matérias-primas importadas?

Que continuemos a nada fazer, no plano do direito sucessório, dos direitos de preferência, no plano dos estímulos fiscais e dos apoios creditícios com vista ao emparcelamento voluntário das unidades de exploração agrícola sem possibilidade de exploração racional?

Que continuemos a assistir, como que resignados, à taxa de absentimos de 1 mês por trabalhador-ano, sem estímulos à sua redução ou desestímulos a esse escândalo nacional que são - os médicos mo perdoem os seus atestados de doença?

Que continuemos a produzir licenciados ao ritmo queiroziano de cada português ser em breve «licenciado como toda a gente», a não profissionalizar o ensino e a despertar nos bancos da escola a inapetência para o trabalho manual, ao marcá-lo com o ferrete da indignidade social?

Que continuemos a consentir, quando não a pactuar, com circuitos económicos paralelos - eufemismo achado para o mercado negro, o contrabando, o açambarcamento e a especulação- a esse ponto se levando o zelo não intervencionista do Governo, e por extensão, ao que parece, dos seus serviços de fiscalização económica e aduaneira?

O Sr. António Arnaut (PS): - Muito bem!

O Orador: - Que continuemos economicamente cegos e moralmente complacentes perante o avanço da lepra da corrupção, que não tarda ganha foros de instituto do mundo das trocas, tão vulgar, se não tão legítimo, como uma comissão de intermediarismo ou de agência?

Que continuemos a ver no turismo um expediente sem imaginação de explorar papalvos em Agosto?

Que continuemos a ver no emigrante um pretexto para explorarmos a saudade durante todo o ano?

Que continuemos a encarar a planificação económica como coisa excelente para os países de leste?

Que continuemos a deixar o empresário entregue a si próprio - em nome de um estúpido liberalismo «tatcheriano» -, sem verdadeiro apoio no investimento, no crédito à exploração e nos estímulos à exportação?

Que continuemos a ver no trabalhador um inimigo, ou no mínimo um adversário, com o qual só se deve dialogar de advogado em punho, ou de lei em riste, ao invés de se reconhecer nele o mais importante parceiro do processo produtivo?

O Sr. Carlos Lage (PS): - Muito bem!

O Orador: - Que continuemos a combater o sector empresarial