O Orador: - Dando mostras de um alto sentido das responsabilidades, as organizações sindicais dos trabalhadores propuseram uma plataforma mínima que permitiria desconvocar todas as greves e aguardar que as eleições permitissem a formação de um novo governo. Assim os trabalhadores aceitariam para já um adiantamento de aumento calculado na base da experiência da contratação colectiva já renovada, em 1983 (ficando abaixo dos aumentos mínimos para reposição dos valores dos salários), e deixariam as negociações em suspenso para serem retomadas após as eleições e a formação de um novo governo, em plenitude de funções.

O governo demitido do PPD e do CDS, fez ouvidos de mercador, sendo legítimo pensar que tão provocatória atitude se destina a impedir a solução dos conflitos com o fim de tentar manipular o natural agastamento, irritação e prejuízos de toda a ordem causados è população e à economia nacional.

Face a tão insólita atitude por parte do Governo, ontem agravada pelas declarações públicas do Ministro da Habitação, Obras Públicas e Transportes, para já não falar aqui de uma entrevista dada por um senhor que é Secretário de Estado dos Transportes Interiores e que é simplesmente inqualificável - só não se percebe como é que se chega a Secretário de Estado podendo dizer coisas daquelas -, queremos deixar aqui, no âmbito das funções da Comissão Permanente, a clara condenação por parte dos representantes do PCP e a exigência de negociações sérias que permitam encontrar uma saída para os problemas dos trabalhadores das empresas públicas de transportes e para as centenas de milhar de utentes cuja vida é prejudicada por exclusiva responsabilidade do Governo.

O Sr. Martins Canaverde (CDS): - Não apoiado!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Silva Marques.

s interesses específicos e particulares da estratégia do Partido Comunista que não ilude, decerto, nenhum democrata e nenhum cidadão português, devidamente consciente das realidades e que, evidentemente, não terá outra resposta senão a da recusa da pretensa mensagem de interesse nacional e de interesse social que o Partido Comunista se arroga, mas que é, pura e simplesmente, uma mercadoria de primária demagogia e de desestabilização das instituições.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Veiga de Oliveira, suponho que para um protesto.

O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - Para que conste - pois seria estranho que depois de ouvir tão grandes despautérios não constasse da acta nenhuma resposta, e só por isso lha dou -, diria ao Sr. Deputado Silva Marques que eu levantei um problema muito concreto, que é o dos prejuízos para a economia nacional, para os utentes e para os trabalhadores que advêm de o Governo de gestão, Governo demitido do PSD e do CDS, não assumir convenientemente as responsabilidades que tem, pois continua a ser governo, e, designadamente, não negociar seriamente com os trabalhadores. Tanto mais que, como citei, eles fazem propostas que são mais do que sensatas, mais do que moderadas. Esta é a questão.

O Sr. Deputado acusou-nos de fazer tropelias. É uma palavra exagerada, mas em todo o caso, atropelo por atropelo, não é comparável o atropelo que o Sr. Deputado cometeu com qualquer outra tropelia, qualquer que ela seja, nem eu fiz nenhuma tropelia, nem nós fazemos tropelias. Limitei-me a denunciar um facto e a chamar a atenção para ele e a manifestar a nossa opinião perante esse facto. E isto não é nenhuma tropelia, mas, ao contrário, o cumprimento do dever que temos quando aceitámos o mandato de deputados.

Não quero também deixar de chamar a atenção para o facto de tudo aquilo que citou a respeito da França e de outras situações não ter aqui cabimento, nem sequer a tal analista, cujo nome se escusou de dizer, não sei se por não o saber ou se por o ter esquecido, mas, se quiser, digo-lhe depois, tenho aqui escrito.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Diga, diga agora!

O Orador: - É Annie Kriegel.

Ainda bem que o senhor fez a pergunta, poderia ficar na dúvida.

Mas, Sr. Deputado, ela falou do exemplo de ouro e o Sr. Deputado não leu, deve ter ouvido. Isso de ouvido não vai, a música de ouvido não dá, falha a nota. Ela falou, de facto, do exemplo de ouro que reside em conjugar a máxima implantação nacional com a máxima ortodoxia. O Sr. Deputado não leu,