deve ter ouvido qualquer coisa, um comentário do comentário do comentário, e essas coisas o melhor é sabê-las na fonte.

Quando o Sr. Deputado fala em filosofia demagógica e metafísica - não sei como classificar tal frase -, faz-me lembrar aquele jogo de palavras que se usa muitas vezes para impressionar os ouvintes, em que se pega num substantivo, num adjectivo, num verbo, e depois se faz um jogo qualquer. Porque isto de filosifia demagógica e metafísica é próprio do Sr. Deputado, ainda deputado Silva Marques.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Silva Marques, para contraprotestar. Peco-lhe o favor de não ser demasiado longo.

O Sr. Silva Marques (PSD): - O Sr. Deputado não sabe que uma das formas de filosofia é a metafísica. Portanto é o vosso caso, os senhores reduziram [...]

É exactamente. O senhor ri-se porque é difícil sair dos princípios elementares de Pollitzer, mas, se por acaso sair, se por acaso conseguir fazer outras leituras, há-de verificar que tenho razão.

De qualquer modo, é evidente que os senhores estão lastimavelmente reduzidos a uma empedernida metafísica. Os senhores cavalgam a onda de um misticismo completamente ultrapassado pelo mundo fora. Efectivamente os senhores têm, por razões portuguesas muito concretas, uma percentagem eleitoral que ninguém vos nega, mas tenho esperança - estou convicto disso - que os partidos democráticos, a curto prazo, vão reduzir a vossa percentagem eleitoral que ainda subsiste hoje mais por fruto da ajuda que vos deu o salazarismo durante 50 anos do que propriamente por mérito próprio.

O Sr. Cardoso Ferreira (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Disto ficam VV. Ex.ªs cientes, possivelmente não convencidos, mas por excesso de pretensiosismo vosso, porque a realidade é esta: efectivamente os senhores ainda hoje beneficiam de uma ajuda persistente, prolongada e, digamos, gratuita do salazarismo. De qualquer modo, isso ver-se-á a curto prazo. A meu ver, e no nosso entendimento, o Partido Comunista Português sem dúvida nenhuma faz gala de uma grande ortodoxia. Sabemos, pela voz do vosso secretário-geral, que os senhores são contra a democracia.

O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - Não diga despautérios!

O Orador: - Até hoje não fizeram uma crítica ao vosso secretário-geral, portanto o vosso objectivo estratégico supremo é o de lutar contra a democracia, chamada por VV. Ex.ªs burguesa. E uma outra característica da vossa ortodoxia, de que V. Ex.ª acabou de fazer apanágio, é a de continuarem a considerar a União Soviética, que, em determinada terminologia, poderemos dizer o Império Russo, como o Sol da Terra, a pátria do socialismo, quando esse império mostra uma agressividade como raros impérios têm demonstrado, com invasões persistentes, clamorosas, contra o direito internacional e contra o protesto dos povos.

O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - É só disparate!

O Orador: - Em Portugal VV. Ex.ª s têm neste momento a trabalhar intensamente, com os motores superaquecidos, a vossa correia de transmissão sindical.

O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - É só disparate!

O Orador: - Mas é evidente que o Governo de gestão não é um Governo de abdicação, como ontem declarou ao País, e muito bem, o Ministro dos Transportes, e VV. Ex.ªs não poderão esperar quer do Governo em exercício, quer da coligação que está no poder até às próximas eleições senão a resposta patriótica, vigorosa e eficaz à vossa agressividade desestabilizadora das instituições, em proximidade do acto eleitoral. E é pelas acções concretas que se podem avaliar os posicionamentos efectivos de cada formação política relativamente a esse valor supremo que é a instauração da democracia em Portugal. VV. Ex.ªs continuam ainda ligados à palavra de ordem do vosso secretário-geral de abater a democracia burguesa, mas todos os democratas em Portugal estão apostados no objectivo contrário, que é o de implantar a democracia em Portugal.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Sr. Mário Tomé (UDP): - Então e os salários dos trabalhadores?! Como é?!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Lemos.

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Depois destas últimas palavras do Sr. Deputado Silva Marques, desta diatribe que nada tem a ver com os problemas nacionais [...

O Sr. Silva Marques (PSD): - Tem, tem!

Intervenção, permito aqui recordar o que se