Por outro lado, como é que vocês tiram o «cavalo da chuva» e não se lembram que estiveram no governo, para já não falar do antigo regime - mas adiante -, e por que é que VV. Ex.ªs tentam sempre radicar tudo na Constituição? VV. Ex.ªs, neste momento, não são um partido político, mas sim um grupo de tomba-constituições.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Azevedo Soares deseja responder já ou no fim?

O Sr. Azevedo Soares (CDS): - Privilegiaria o Sr. Deputado Hasse Ferreira, respondendo-lhe individualmente.

O Sr. Presidente: - Nesse caso, tem V. Ex.ª a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. Azevedo Soares (CDS): - Sr. Deputado Hasse Ferreira, registo que reconhece a existência de uma crise na esquerda. Já é bom que o País fique a saber que quanto a esse aspecto, pelos vistos, estamos todos de acordo, dado que V. Ex.ª se situa numa posição de ponte e que, portanto, abrangerá todas essas áreas possíveis de definição de esquerda.

O Sr. César Oliveira (UEDS): - Nem todas!

O Orador: - O problema, Sr. Deputado, é outro. É que se a esquerda reconhece que está em crise tem o dever moral e político de deixar o Governo para quem não tem crises.

... resolvê-las fora dessas instâncias, em vez de procurar levar essa mesma crise para o nível das instituições, para o nível do próprio Estado, corromper este e a capacidade de exercício do poder político para poder camuflar e disfarçar a sua própria crise. Essa é que é a questão.

Aplausos do CDS.

O Sr. Deputado falou em variadíssimos países estrangeiros, disse imensas coisas sobre eles. Só lhe perguntaria, se isso é tanto assim, por que é que o Sr. Dr. Mário Soares veio do Presidente Reagan e vai agora ao liberal Japão pedir ajuda para o socialismo português.

Risos do CDS.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Hasse Ferreira deseja protestar?

O Sr. Hasse Ferreira (UEDS): - Sim, Sr. Presidente, é para um rápido protesto.

Sr. Deputado Azevedo Soares, agradeço a sua atenção. Se o Sr. Deputado emprega a expressão «ponte» no sentido de eu ou a UEDS sempre termos procurado contribuir para o diálogo entre as diferentes forças da esquerda democrática, isso sim. Mas não pode daí tirar a ilação de que o que eu diga ou o que diga a minha bancada seja representativo do que pensa a esquerda - essa ilação parece-me, digamos, um pouco abusiva.

O Sr. Anacoreta Correia (CDS): - Pergunte aí aos parceiros do lado!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado César Oliveira, para pedir esclarecimentos.

O Sr. César Oliveira (UEDS): - Sr. Deputado Azevedo Soares, não sou eu quem vai negar qualidade ao seu aparente improviso. É que foi tão bem improvisado que suspeito que V. Ex.ª tenha tido um trabalhão enorme a decorar o discurso antes de o proferir aqui.

O Sr. Azevedo Soares (CDS): - Vê-se que é historiador!

O Orador: - O Sr. Deputado veio aqui, pretensamente e com ar cândido, dizer que a culpa é da esquerda, assimilando, como já disse o meu camarada Hasse Ferreira, o Partido Social-Democrata à esquerda - espero que eles refutem tão ignominiosa acusação que V. Ex.ª lhes está a fazer -, que a culpa é dos outros, tendo até começado por dizer que há gente que se aproveita da crise económica, política e social para estabelecer a sua estratégia. Ora, V. Ex.ª não fez outra coisa no seu discurso senão isso. Ou seja, V. Ex.ª