bre o projecto de lei de bases do sistema educativo, que me preocupo de sobremaneira com isso.

Por isso, gostava que V. Ex.ª reflectisse comigo no seguinte: se estamos preocupados com a fome que neste momento algumas crianças começam a sentir, porque será que existe essa situação? Esta é uma questão que nos devemos colocar aqui, no seio da Assembleia.

Sr.ª Deputada, é que se por um lado se exige que o Ministério da Educação e o próprio Governo que neste momento está à frente dos destinos do País resolvam o problema da fome, por outro lado, também temos de responsabilizar outras pessoas que conduziram a esta situação.

O Sr. Lacerda de Queirós (PSD): - Muito bem!

O Orador: - É que nós podemos verificar que a fome nas escolas se observa efectivamente nas zonas suburbanas dos grandes centros populacionais, isto é, de Lisboa, do Barreiro, de Setúbal e um pouquinho na zona suburbana do Porto. E porquê, Srs. Deputados? É verdade ou não que era aí que em 1975 e 1976 se comia marisco à «tripa forra»?

Risos do PCP.

É ou não verdade que nessa altura não se dava a mínima noção às crianças e às famílias do que é a gestão dos recursos?

Vozes do PCP: - Que tristeza!

O Orador: - O que de facto existe, Sr.ª Deputada, é um problema de má gestão de recursos que o País (em mas, em qualquer caso, cada família tem de ter noções do que é uma boa gestão dos recursos familiares. E o que é certo é que o não souberam fazer, nomeadamente naquela zona onde o seu partido tinha mais influência e é aí que hoje muitos trabalhadores começam a torcer a orelha, que já começa a não deitar sangue porque a barriga começa a estar colada às costelas.

Protestos do PCP.

O Sr. António Mota (PCP): - E de quem é a culpa? Vocês é que não pagam os salários! Vocês roubam os trabalhadores!

O Orador: - E isso é o resultado da irresponsabilidade ...

O Sr. Manuel Lopes (PCP): - De vocês!

O Orador: - O Sr. Deputado, parece-me que quando os trabalhadores deixaram de produzir, deixaram de ter forca moral para reivindicar o seu salário. Ë preciso que se diga com toda a frontalidade que quem não produz, quem não tem não pode distribuir. Esta também é uma realidade.

O Sr. João Abrantes (PCP): - E é você professor, que tristeza!

O Orador: - Para terminar, Sr.ª Deputada Luísa Cachado, só lhe quero perguntar se não é verdade que a política educativa não pode ser és um ministério, não pode ser de um qualquer ministro da educação, seja ele bom ou mau. A política de educação de um país tem de ser da responsabilidade dos pais, dos professores e dos alunos e, é claro, também das próprias forças sociais. O que nós temos em Portugal não é só uma crise de alimentação, uma crise económica; é essencialmente uma crise moral, uma crise ética, uma crise de dignidade, uma crise de responsabilidade.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Sr. António Mota (PCP): - Tem toda a razão: o seu partido perdeu toda a dignidade!

A Sr.ª Luísa Cachado (PCP): - Sr. Presidente, se me permite, ao contrário do que antes havia manifestado, eu pretendo responder já a estes 2 Srs. Deputados interpelantes, pois receio correr o perigo de, havendo mais oradores inscritos, não conseguir dar-lhes resposta ainda hoje.

O Sr. Presidente: - Com certeza, Sr.ª Deputada.

Vozes do PCP: - Muito bem!

A Oradora: - Quanto ao problema da fome que grassa no nosso país, concretamente nas escolas, constato que ele não magoa nem ofende só os ouvidos puritanos do Sr. Primeiro-Ministro, mas também os dos Srs. Deputados. É porque não só não aceitam que a fome seja uma realidade como nem sequer aceitam que ela seja referida nesta Assembleia como um facto real e concreto que se vive nas escolas, que se vive nas ruas deste país, na mendicidade oficializada.

Vozes do PCP: - Muito bem!

A Oradora: - Proceder assim e ignorar um facto que existe e que, como facto real e concreto que é, não pode ser ignorado, a não ser que não noa assumamos como responsáveis e como portugueses dentro deste Parlamento, que é responsável pela situação de cumplicidade que se vive em termos governamentais neste país.