Sim, Sr. Primeiro-Ministro, aqui estamos de acordo: é bom que se saiba quem fomenta e apoia o terrorismo.

Sr. Presidente, Srs. Deputados, na sua longa intervenção, o Primeiro-Ministro não referiu uma vez sequer o drama dos trabalhadores com salários em atraso. Os deputados do PS podem não ter autorização para apresentar o seu projecto de lei, mas vão estar sujeitos a ter de aguentar com o pacote laboral requentado da AD. E então? E agora, Srs. Deputados do PS? Mandam às malvas as resoluções das vossas jornadas parlamentares?

O voto de confiança quer fazer amordaçar preocupações, grudar brechas e contradições no seio da maioria e entupir os ouvidos às reclamações populares que no 25 de Abril, no 1.º de Maio e no dia 2 de Junho tiveram eco nacional.

Em democracia, no Portugal de Abril, haverá sempre alternativa a esta política e aos seus promotores. Cada vez mais se espalha este sentimento.

Basta! Já fizeram mal suficiente aos trabalhadores, ao povo e ao País!

Como Governo, fazeis cá tanta falta como a fome que provocam!

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: - Para formular um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Nunes.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, na sua intervenção, para além da frase «mandar às malvas» -não sei o quê-, que é de uma elegância formal que dispensa comentários,...

Risos do PCP.

... refere as sinceras preocupações dos deputados socialistas, ou de alguns deputados socialistas.

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Não o mandaram a si às malvas!

O Orador: - Mas pode mandar à vontade, Sr. Deputado Jorge Lemos, que me seria completamente indiferente!

No entanto, o Sr. Deputado chamou Pilatos ao secretário-geral do meu partido, o Sr. Primeiro-Ministro Mário Soares, e insultou da forma mais clara o nosso Sr. Ministro da Saúde Maldonado Gonelha. Depois de ter feito todas estas referências, de duvidoso gosto, importa-se de dizer quem são os deputados desta bancada que merecem o qualificativo de sinceros e com preocupações sinceras e quem são os que o não merecem?

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, está inscrito para formular um pedido de esclarecimento a V. Ex.ª o Sr. Deputado José Lello. O Sr. Deputado deseja responder já ao Sr. Deputado José Luís Nunes ou no fim, conjuntamente, a estes 2 Srs. Deputados?

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): - Respondo no fim, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Para formular um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado José Lello.

Vozes do PCP: - Alegada?

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Não deve ter estado em Lagos!

O Orador: - Sr. Deputado Jorge Lemos, faça o favor de não me incomodar e de ter calma.

Coloco à consideração do Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, tendo em atenção as preocupações de carácter internacionalista que V. Ex.ª vem revelando, a questão de saber se igualmente se preocupa e se tem em consideração a fome que passa, por exemplo, o académico Sakharov nessa pátria das liberdades que é a URSS.

Risos do PCP.

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): - Sr. Deputado José Luís Nunes, em primeiro lugar, quero dizer-lhe que não estou aqui para ser elegante seja para quem for.

O Sr. José Lello (PS): - Também era difícil!

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Falei das preocupações sinceras de alguns deputados socialistas, porque, no debate da interpelação dos salários em atraso feita pelo meu grupo parlamentar, alguns deputados dessa bancada - e julgo que sinceramente- demonstraram preocupação pelas situações de fome e de miséria, que o Sr. Primeiro-Ministro recusa aceitar como de facto existem.

Em relação ao Ministro da Saúde e antigo Ministro do Trabalho Gonelha, citei a sua afirmação, naquela altura, de que os contratos a prazo iriam servir para combater o desemprego e o que afirmei foi: «viu-se e vê-se, com a existência hoje de 500 mil trabalhadores com contratos a prazo».

Quanto à questão colocada pelo Sr. Deputado José Lello, quase que não tinha nada para dizer, mas aceite