O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Jorge Lemos pretende responder já ou no fim de todos os pedidos de esclarecimento?

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Prefiro responder no fim, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Então tem a palavra o Sr. Deputado Silva Marques para também formular pedidos de esclarecimento.

O Sr. Silva Marques (PSD): - O Sr. Deputado Jorge Lemos demonstrou na intervenção que fez que o entendimento, por parte do PCP, da comunicação social e do seu papel na sociedade e no Estado é completamento diferente do nosso. Portanto, não vale a pena insistir nesse ponto.

No entanto, tentando pegar na sua própria argumentação, o Sr. Deputado referiu que a nossa proposta, a proposta da maioria porque nesse ponto subscrevemos inteiramente a proposta do Governo -, que é a da eleição dos membros do Conselho de Comunicação Social por dois terços, é hipócrita. Assim, pergunto: ela é hipócrita por ser de dois terços? Se fosse de quatro quintos deixava de ser hipócrita? Isto é, ela deixava de ser hipócrita até ao ponto em que abrangesse o Partido Comunista? A partir daí desaparecia a hipocrisia? Questiono-o sobre isto, Sr. Deputado, porque o Partido Comunista, em diversos momentos, tem feito prova de que enquanto ele não participar do leque se está perante as tropelias da reacção e da prepotência, mas a partir do momento em que o Partido Comunista passa a pertencer ao leque, a democracia está implantada ...!

Uma voz do PSD: - É só uma questão de aritmética!

O Sr. Presidente: - Para responder, se assim o desejar, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Lemos.

O Sr. Jorge Lemos (PCP): -Sr. Presidente,

O Sr. Silva Marques (PSD): - Sr. Presidente, peço a palavra para fazer um protesto.

O Sr. Presidente: - Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Sr. Deputado Jorge Lemos, aceitando essa subtil distinção, na medida em que a proposta do Governo é má e a minha argumentação é hipócrita - e dá-me a impressão de que há aí um pequeno desvio em favor do Governo, o que, aliás, muito abona a posição da sua bancada, pois este Governo é, realmente, digno de todo o crédito -, gostaria que me dissesse, só para satisfazer a minha curiosidade, porque é que a minha argumentação é hipócrita. Será porque considera que eu lhe pus uma questão acerca do que eventualmente o levaria a considerar a minha argumentação hipócrita? Então, responda-me porquê.

O, Sr. Presidente: - Para um contraprotesto, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Lemos.

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Sr. Deputado Silva Marques, tem V. Ex.ª ciúmes do epíteto com que qualifiquei a proposta do Governo?

O Sr. Silva Marques (PSD): - Não, de forma nenhuma!

O Orador: - Também lhe posso chamar um mau deputado, mas não era isso o que eu queria dizer. Qualifiquei apenas a sua argumentação como hipócrita!

O Sr. Silva Marques (PSD): - Então diga porquê. Argumente!

O Orador: - Ou será que por detrás de todas essas perguntas esta o desejo não realizado de um qualquer lugar no Governo?

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Igrejas Caeiro.

O Sr. Igrejas Caeiro (PS): - Sr. Presidente,

Srs. Deputados: Muitos de nós temos estado mais ou menos perante as câmaras de televisão, com um microfone ao nosso alcance ou em conversa com os jornalistas que, de bloco de notas em punho ou de gravador na mão ou mesmo com suas câmaras fotográficas assestadas, vão memorizando as nossas intervenções, conversas e gestos.

Grandezas e misérias, momentos altos e fragilidades, afirmações claras de respeito pelos princípios ou maleabilidade conjuntural, de tudo se alimenta quotidianamente a justa curiosidade da comunicação social, que a seu modo interpreta o que de bom e de mau, de elevado ou medíocre vai proporcionando a classe política.

É no entanto muito reduzido o número de quantos têm experiência e conhecimento das condições em que vivem e trabalham os profissionais da comunicação social. Das permanentes pressões a que estão sujeitos.

Desde ínfimas parcelas de poder até ao cume da pirâmide estatal, seja da esquerda, do centro ou de direita, quem ascende às alavancas da máquina esta tal ou tem em mãos as rédeas de centros decisórios logo julga estar a comunicação social ao seu serviço, com direito a influenciá-la como patrão, pai ou pelo menos como conselheiro.