Mas mais do que isso, vai buscar dinheiro ao mercado monetário interbancário, no qual a taxa de juro é muito inferior a média das taxas de juro pagas pelos depósitos. E só a «carne» para a banca privada! Essa é que é uma questão fundamental .. .

Em relação ainda à questão de «não desperdiçar recursos» na constituição das agências, não seria melhor levar às últimas consequências essa sua afirmação e ser muito mais claro, tal como foi, por exemplo, o Sr. Deputado João Salgueiro, que, há pouco tempo, muito clara e concretamente, defendeu publicamente que, para haver desnacionalização da banca, então, o melhor seria desnacionalizar alguns bancos, pelo que não haveria desperdício de recursos financeiros que são escassos no mercado português? Como é?

Nozes do PCP: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Raul de Castro.

O Sr. Raul de Castro (MDP/CDE): - O Sr. Deputado António Rebelo de Sousa disse que «a sua concepção do socialismo democrático tinha mais que ver com a distribuição do que com a apropriação».

A propósito desta afirmação, queria solicitar-lhe dois esclarecimentos. Primeiro: pensa que se favorece a distribuição canalizando para o bolso de alguns grandes capitalistas uma parte dos lucros dos 4 sectores estatizados que agora se projecta abrir à iniciativa privada? Segundo: o Sr. Deputado, na concepção que aqui defendeu, acata e observa as disposições da Constituição. Como pode ignorar que do seu artigo 80 º, alínea c), « princípios fundamentais da organização económica», faz parte a apropriação colectiva dos principais meios de produção? Agradecia que me fossem dados estes esclarecimentos. Muito obrigado.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado António Rebelo de Sousa tem a palavra para responder, se desejar.

O Sr. António (Rebelo de Sousa (PS): - Quero sim, Sr. Presidente, mas solicitava que me informasse de quanto tempo disponho.

O Sr. Presidente: - São 5 pedidos de esclarecimento, Sr. Deputado, portanto, dispõe de 15 minutos.

. Não tenho nenhuma vergonha em ter sido aquilo que fui e assumo essa condição com perfeita consciência de que nessa altura era tão social-democrata como o sou hoje, só que agora no Partido Socialista.

Em segundo lugar, e quanto à questão do vanguardismo, há um aspecto importante que deve ser devidamente esclarecido. Quando falei no vanguardismo não significava com isso apenas pretender criticar aqueles partidos - como é o caso, evidentemente, do Partido Comunista- que se dizem únicos defensores dos interesses da classe operária. E óbvio que não queria ficar por aí. Queria dizer com isso que a minha concepção do socialismo tem que ver com uma concepção interclassista da sociedade, em que não se deve excluir certos sectores da sociedade do exercício do poder político, só porque não são trabalhadores por conta de outrem. Portanto, é esta a crítica que fazia e que, no fundo, reconduz também à primeira análise que tinha feito relativamente ao colectivismo.

Terceira questão: o socialismo novecentísta. E evidente que não falo do socialismo novecentista, pura e simplesmente, para criticar uma situação que, por um lado, decorre das críticas que foram formuladas pelo Partido Comunista e, por outro, da necessidade de introduzir alterações à Lei de Delimitação dos Sectores. Não é só nessa perspectiva que critico o novecentismo, também critiquei, na mesma intervenção - se o Sr. Deputado estivesse estado com atenção teria ouvido -, as teses clássicas tradicionalistas que datam, como sabe, em grande parte do mesmo século. Portanto, aí trata-se mais de uma questão de atenção da parte de V. Ex.ª.

Quanto à crítica que fiz em relação à banca nacionalizada, que muitas vezes adopta um postura que tem mais a ver com a de uma casa de penhores do que, propriamente, com o interesse em conseguir analisar os projectos de acordo com a sua rentabilidade e isso não quer dizer que possa generalizar essa crítica a todas as instituições de crédito nacionali zado, longe de mim tal ideia -, é verdade que em muitos casos têm sido concedidos empréstimos, não de acordo com critérios de racionalidade económica ou de taxa interna de rentabilidade, para ser mais claro, mas sim com critérios de maiores ou menores garantias reais