disso, a minha vida centrou-se sempre na actividade universitária, bastando dizer que nos últimos 10 anos nunca deixei de dar aulas.

Quanto a um eventual regresso à actividade política, não me parece que ele venha a verificar-se, pelo menos a curto prazo, e, aliás, só o encararia na perspectiva de uma contribuição patriótica em tempo de crise. Isto não quer, porem, dizer que ache que tudo vai bem. Pelo contrário, encaro o que se passa com tristeza e alguma preocupação, pois, embora considere que o regime democrático se consolidou, após provas difíceis, e se afirmou como o inequivocamente preferido pelo povo português, a verdade é que o regime, ou, como alguns preferem, o sistema, tem vindo a acumular erros, particularmente desde 1978-1979.

Parlamento como câmara corporativo dos partidos

Pergunta. - Quer destacar alguns?

Resposta. - O mais pernicioso è a excessiva concentração do Poder nos partidos e, dentro dos partidos, nas respectivas máquinas burocráticas.

Pergunta. - Favorece candidaturas independentes dos partidos, quer para a Assembleia da República, quer para o poder local?

Resposta. - Em principio, entendo que a representação no parlamento deve ser por via dos partidos, embora admita que a Constituição pudesse prever candidaturas independentes. O que defendo è que as vias de participação política não devem esgotar-se nos partidos, e quanto ao parlamento, entendo que os deputados têm de ser mais qualquer coisa que meras correias de transmissão dos directórios partidários. Quanto ao poder local, admito perfeitamente a participação de listas independentes, como entendo que devem ser independentes as listas em outras esferas, como a associativa, a sindical, etc. Voltando ao parlamento, convém, aliás, referir que, em minha opinião, fundada em alguns anos de prática parlamentar, as candidaturas independentes não teriam grande viabilidade prática.

Pergunta. - Parece haver uma contradição.

onais) tenham mais capacidade de intervenção na vida democrática que os restantes milhões de cidadãos não partidários.

Pergunta. - As suas posições até agora expressas parecem convergir no sentido da necessidade do aparecimento de um novo ou vários novos partidos. Neste momento, como se sabe, apoiantes da recandidatura de Ramalho Eanes estão a proceder a uma série de encontros, e uma próxima reunião em Abrantes pode mesmo constituir o passo decisivo para a criação de um partido «eanista». Ora, o Prof. Jorge Miranda foi apoiante qualificado do general Ramalho Eanes nas suas 2 vitórias presidenciais ...

Resposta. - O que sei sobre o falado «novo partido» è o que tem vindo nos jornais. Pessoalmente, tenho a criação de novos partidos como perfeitamente normal e até acho que um novo partido poderá, a constituir-se, vir a ser um factor de renovação do actual sistema, quebrando o monopólio dos 4 grandes partidos actuais e favorecendo o papel dinamizador dos pequenos partidos, como factores de abertura democrática e como bastiões no parlamento dos valores da liberdade e da vivacidade no debate político.

Pergunta. - Posso concluir do que disse que prevê que o novo partido será mais um pequeno partido?

Resposta. - Nas presentes circunstâncias é muito difícil fazer quaisquer previsões. Uma coisa é certa: um pequeno partido não teria grande interesse, e não deve ser para aí que os seus mentores apontam. Aliás, as sondagens que vêm sendo divulgadas indiciam boas perspectivas, embora pareça definitivamente arrumado o sonho de alguns com uma maioria absoluta. Em qualquer caso, o essencial é que a eventual nova formação evite os vícios dos outros, designadamente o poder do aparelho e a fulanização, e assuma com clareza uma posição no leque político e ideológico, evitando tentações de abranger toda a gente.

Pergunta. - Uma última questão, reflectindo, aliás, a grande preocupação de muitos portugueses: enquanto homem, político e constitucionalista, que pensa do projecto governamental de segurança interna?

Resposta. - Vejo com crescente preocupação e algum espanto esta proposta de lei, dita de «segurança interna». Já aquando do anteprojecto de lei de imprensa eu tinha ficado admirado como é que um governo de que fazem parte tantos homens que lutaram pela liberdade esboçava soluções manifestamente restritivas de direitos fundamentais constitucionalmente garantidos.