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escudo, aumentar em dois pontos a taxa de juro, aumentar a carga fiscal, reduzir os subsídios a produtos essenciais e aumentar tarifas de bens de uso corrente, e não se esconder atrás de um biombo; reduzir o investimento e o consumo, sacrificar o crescimento e continuar a almoçar todos os dias; ...

A Sr.ª Ilda Figueiredo (PCP): - Mas há quem não almoce!

0 Orador: -... trazer aqui uma proposta de orçamento que é um verdadeiro espartilho e não mostrar arrependimento; ter a veleidade de que as estradas e os caminhos de ferro não são coisas de cortar, invocar em razão disso a legalidade democrática, reprimir abusos que para o efeito abusivamente rotula de antidemocráticos, em alegada afirmação de autoridade e sem complexos autoritários; hipotecar ao FMI a independência nacional através da contratação de mais um vergonhoso acordo de stand by, quando era tão fácil pedir dinheiro emprestado ao Tchad, negociar com um ourives ou obrigar os ricos a pagarem a crise!

Risos do PS e do PSD.

Aqui uma pergunta: se este Governo é tão asno que comete tais asneiras; mas se, por outro lado, as asneiras são tais que até um asno as vê, será este Governo sádico, masoquista, ou suicida? ...

Risos do PS e do PSD.

... Ou dar-se-á o caso de ser apenas patriota?

Vozes do PCP: - É mau!

O Orador: - Patriota é o que este Governo é.

Aplausos do PS, do PSD e da ASDI.

A Sr.ª Zita Seabra (PCP): - É evidente!

só é pródigo em soluções quando não está no Governo, para não cometer a indelicadeza de afirmar que só abunda nelas quando está em Portugal. Mas como ainda dispõe de muito tempo para interpelar, talvez consinta em gastar um pouco a responder, tendo então a bondade de nos ensinar como travava o endividamento, como pagava a dívida, como liquidava os salários em atraso, como combatia o desemprego, como equilibrava o orçamento, como intocava as reservas de ouro, como esconjurava o Fundo Monetário Internacional.

Quem, com tanta desenvoltura, na rua agita slogans, agiria, de certo, com igual desempeno, no labirinto das chancelarias.

E claro que não nos satisfazem respostas do tipo das que aqui foram ouvidas.

Perguntar ao Governo como é que se atreve a aceitar aumentos de salários abaixo da taxa de inflação, como se isso fosse matéria de livre escolha, e fosse possível, se não mesmo fácil, continuarmos sem limite a viver acima das nossas possibilidades; encontrar remédio para as nossas aflições em afirmações redondas como essas de que é preciso diminuir as taxas de juro, controlar a inflação e estabilizar o escudo; acrescentar que não é com desemprego e falências que se controla a crise; identificar com uma alternativa o aumento dos salários reais, do emprego e do desenvolvimento; descobrir que o caminho é produzir; ver na instalação de uma unidade agro-industrial de beterraba sacarina apenas uma poupança de 2 milhões de contos; exigir rigor e falar no «fausto da vida governamental»; não ver no acordo com o FMI mais do que um «acordo vergonhoso que limita a autonomia nacional»; são casos agudos de cegueira política e de amnésia conveniente, é, no mínimo, confundir a meta com o caminho, desejar o efeito e julgar ter atingido a causa, insinuar que é fácil o que se sabe ser difícil, afirmar capacidade que se não tem, até porque há não muito se demonstrou não tê-la.

Vozes do PS: - Muito bem!

0 Orador: - Ê, em suma, situar-se fora do país que temos, do mundo e do tempo em que vivemos.

Que, sobre isto, o Sr. Deputado Carlos Carvalhas tenha sido capaz de perguntar aos membros do Go-