E o que eu sinto, quer numa empresa pública que dirijo quer nos corredores da Assembleia, é que nós, mesmo sendo participantes activos na vida política do País, muitas vezes não temos a coerência fora aqui do Plenário para a mobilização geral de que o País precisa. Acho que é bom que nos empenhemos, de facto, nessa mobilização.

Quanto ao facto de eu ter referido que tinha preocupações - e tenho - de que na aplicação das medidas não haja rigor na distribuição dos custos, dir-lhe-ei que esse é também um problema de eficiência do País. Penso que todos nós estamos convencidos de que é assim mas, muitas vezes, ou porque estamos no poder ou na oposição, não assumimos como deve ser essas desigualdades e essas deficiências de funcionamento. Ou quando estamos no poder temos complexos ou responsabilidades e arranjamos as justificações para dizer que não é preciso fazer melhor, ou quando estamos na oposição dizemos que nada se faz e que ninguém tem preocupações, o que tam bém não é verdade. O que eu penso é que é oportuno que na vida prática de cada um de nós - como empresários, como trabalhadores, como políticos sejamos mais coerentes. A minha opinião é a de que a nossa coerência não é muito elevada.

Quanto à questão do pagamento do imposto extraordinário em duodécimos, não vou referir em que reunião é que isto se passou, mas foi numa reunião em que estavam muitos dos responsáveis pela vida económica e financeira do País. O Sr. Ministro das Finanças já tem conhecimento do facto e foram já tomadas providências para que esta falha não se se verifique. Mas eu, ao exemplificá-la, não quis escamotear uma realidade, ou seja, a de que pelo menos existiu um perigo, existiu pelo menos um entorse de mentalidade grave: o de que não se via que realmente estávamos perante um facto que na prática contrariava em tudo, na coerência, aquilo que era de esperar.

Se tem de haver um imposto extraordinário que pesa sobre os trabalhadores, é preciso qu e aqueles que têm menos protecção não sejam os que vão suportar em Novembro e em Dezembro esse encargo e esse sacrifício, e que outros, por terem mais poderes de reivindicação ou por estarem num enquadramento mais adequado e mais próximo do poder, o não suportem. Não valerá a pena estarmos aqui a desen-

volver este problema, pois, na reunião da Comissão de Economia, Finanças e Plano torná-lo-emos a abordar e então, numa comissão mais restrita, poderei exemplificar ainda com mais pormenor o que se passou.

Em relação às questões colocadas pelo Sr. Deputado Lopes Cardoso, ao contrário do que eu imaginava, creio que não fui entendido na minha exposição. Estou efectivamente de acordo em que venha a estabelecer-se uma tributação que contemple ou que tenha em atenção os sinais exteriores de riqueza. Aliás, num aparte do meu discurso referi que concordo com isso por ser uma atitude moralizadom.

carros.» Ora, se a repartição de finanças confirmar que estes 500 contos por dia estavam isentos do pagamento de qualquer imposto, e para tal bastava que ele provasse que esses 500 contos por dia eram resultantes de juros de depósitos a prazo ...

O Sr. Lopes Cardoso (UEDS): - Dá-me licença que o interrompa, Sr. Deputado?

O Orador: - Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Lopes Cardoso (UEDS): - Sr. Deputado Mário Adegas, não pus em dúvida que V. Ex.ª aceitasse o principio de que os sinais exteriores de riqueza fossem um factor a ter em conta na tributação. O que me pareceu foi que o Sr. Deputado tinha reservas quanto à possibilidade de o implementar.

Contudo, a questão está em saber se aquilo que o Orçamento propõe é, de facto, a tributação dos sinais exteriores de riqueza. Eu penso que não é. E a questão que o Sr. Deputado levantou talvez não seja a de ir tributar a presença,dos Mercedes por essa via ínvia que o Orçamento propõe com toda a falta de lógica e com toda a iniquidade. Penso que o caso dos automóveis demonstra isso, porque o detentor de um automóvel que é avaliado pelo fisco em 360 contos, desde que o mesmo tenha 5 anos, é considerado como detentor de um sinal exterior de riqueza. No entanto, se eu tiver comprado nesse ano um carro de 1800 contos, não tenho sinal nenhum exterior de riqueza. Talvez o que esteja errado e que importa corrigir e que tem alguma eficácia prática ê que eu në(r) pudesse declarar ao fisco que tinha 500 contos de rendimento por dia numa situação que me isentava totalmente de impostos.