O Orador: - ... e se o quer reformar, em primeiro lugar tem de o amar, porque só se reforma aquilo que se ama. Quando a Sr.ª Deputada põe de lado uma parte do País que está vivo, confessa que não o ama, por isso não pode participar da reforma.

Aplausos do CDS.

Queria dizer-lhe também que eu, pessoalmente, já fui julgado por um órgão da soberania - o Conselho da Revolução. Leia o acórdão, Sr.ª Deputada, e verá que todas as acusações que lá estavam minuciosamente enumeradas num longo caderno foram consideradas improcedentes. Isso chega! Mas aquilo que não me chega -e isso tenho de repeti-lo hoje - é que estamos aqui a perder tempo com o vosso projecto e estamos apenas a proporcionar um comício. Porque o único projecto que aqui está sério, para estadistas, que tem de ser meditado e que pode ter viabilidade de passar é o do Partido Socialista. E, como o País não tem tempo a perder, é esse o projecto que temos de estudar.

O Sr. José Magalhães (PCP): - Isto é que é um estadista!

O Orador: - Sr.ª Deputada Zita Seabra, isto é o mínimo que lhe posso dizer neste tempo que me é concedido. Mas permito-me fazer uma observação final. É que, quando se trata desta questão nós estamos a tratar do problema mais sensível do futuro de qualquer comunidade, e a primeira coisa que os senhores fazem, porque são um partido passadista ...

Protestos do PCP.

... porque não conseguem dizer uma palavra sem invocar o passado ...

Protestos do PCP.

Os senhores são hoje o único partido salazarista que há em Portugal! Se um dia lhes tiram o passado ficam sem projecto para falar!

Aplausos do CDS. Protestos do PCP.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): - Por isso é que vocês nos metiam na prisão!

Vozes do PCP: - É preciso ter lata!

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, pedia-lhes silêncio para continuarmos os nossos trabalhos.

O Sr. Deputado Teófilo Carvalho dos Santos pede a palavra para que efeito?

O Sr. Teófilo Carvalho dos Santos (PS): - Para um protesto, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Em relação à intervenção do Sr. Deputado que acabou de falar?

O Sr. Teófilo Carvalho dos Santos (PS): - Exactamente, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Fica inscrito, Sr. Deputado. Dar-lhe-ei a palavra a seguir aos outros Srs. Deputados que estão já inscritos para protestar relativamente a outras intervenções anteriores.

Tem a palavra o Sr. Deputado Azevedo Soares.

O Sr. Azevedo Soares (CDS): - Sr.ª Deputada Zita Seabra, tinha há pouco registado uma certa diferença, mas V. Ex.ª não resistiu ao impulso inicial e ao seu impulso natural. Assim, mais uma vez proeurou colocar esta questão que aqui nos traz a debater num plano que não é o verdadeiro plano das questões em causa. E agora, em respostas a pedidos de esclarecimento da minha bancada, proeurou mais uma vez considerar esta questão do aborto como uma questão das mulheres.

Não nego a participação essencial e prioritária da mulher na questão da maternidade e na questão da própria gestação do ser. Mas a Sr.ª Deputada não pode, de maneira nenhuma, à luz da protecção de direitos da mulher, querer fazer esquecer ou inferiorizar outros valores e outros direitos. Não é possível procurar com paixão, com entusiasmo, defender direitos da mulher, esquecendo nisso todos os outros direitos que estão em causa, nomeadamente o direito à vida do feto. E, Sr.ª Deputada, depois da intervenção do Sr.

Vozes do PS: - Não foi nada disso!

O Sr. Presidente: - Para um protesto, tem a palavra o Sr. Deputado Nogueira de Brito.

O Sr. Nogueira de Brito (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Recorro apenas à figura do protesto para não me acusarem de uma utilização «latifundiária» das figuras regimentais.

Risos do CDS.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): - Não lhe ficava mal!

O Orador: - Queria dizer que não me vou novamente desviar do tema central e, abordando-o, uma coisa é certa, Sr. Presidente e Srs. Deputados: todos os deputados desta Câmara são claramente contra o aborto clandestino - dizem que são todos contra o aborto clandestino! O CDS é claramente contra o aborto clandestino ...

O Sr. José Magalhães (PCP): - Ah!