O Orador: - Não sou hipócrita. Muitas vezes até na minha vida política tenho sido acusado de excesso de sinceridade. E quando, querendo cavar e divisão no CDS, dizem que há 2 CDS isso não é verdade. O que há é ainda poucos CDS para responder a tantos insultos.

Aplausos do CDS.

O Sr. João Amaral (PCP): - Há 3 CDS!

Risos do PCP.

O Orador: - Mas haverá mais.

Srs. Deputados, talvez não seja importante dizer quase nada, ...

O Sr. José Magalhães (PCP): - Não tem nada para dizer.

O Orador: - ... porque julgo ter demonstrado o que há que fazer contra o aborto. O que há que fazer é, por um lado, o planeamento familiar - e já aqui foi dito em que termos estávamos de acordo com isso -, por outro lado, a prevenção ...

Vozes do PCP: - Vocês nunca disseram isso!

O Orador: - Dissemos que não queríamos que o planeamento familiar fosse apenas um planeamento estatista, dissemos que não deveria consistir apenas numa recomendação de contraceptivos e mais nada, dissemos que há toda uma educação que comporta outros elementos que não apenas os que referiram e dissemos que, oportunamente, vamos apresentar uma lei desse tipo. Dissemos, pelo menos, isso.

O Sr. José Magalhães (PCP): - Disseram pouco e não fizeram nada!

O Orador: - As nossas posições estão, portanto, suficientemente ciscas.

O Sr. Deputado Lopes Cardoso, com a dignidade que, aliás, sempre todos nós reconhecemos à sue nobreza parlamentar, perguntou-me qual era para mim a especificidade da nossa cultura. Eu não quero medir a nossa cultura estatisticamente. Apesar de tudo, perguntar-lhe-ia o que é que é mais representativo da nossa cultura: todos os casos das mães que esperam naturalmente os seus filhos ou os casos em que há acordo?

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - Parece-me que é uma pergunta legítima, embora eu não lhe quisesse dar uma fórmula estatística. Não retiro, aliás, como disse, nenhuma dignidade e compreendo todas as situações em que não é isso que se passa.

O que eu quis dizer também foi que há um apelo positivo para responder à questão do aborto e não um apelo puramente negativo. Lembro-me de um poeta que dizia «é mais belo resistir do que ceder». Não sei se o Sr. Deputado Octávio Cunha vai fazer uma intervenção a pedir que se proíbam aqui as citações de poetas! ... Não sei.

Já ouvi muita gente dizer: «queimem os livros! Talvez o Sr. Deputado Octávio Cunha, depois do meu discurso, quisesse dizer: queimem esse discursos. Não queimarei esse discurso e mal da sociedade portuguesa quando o queime.

O Sr. José Magalhães (PCP): - E preciso ter lata!

O Orador: - Sr. Deputado, eu não manipulo botões, mas, pode ter a certeza, defenderei, perante os seus botões, com as palavras que tenho, os princípios e as convicções em que acredito.

Vozes do CDS: - Muito bem!

E pena que às vezes o debate atinja estes excessos. E é pena porque estamos realmente perante um flagelo, perante uma dificuldade, perante um mal endémico da sociedade portuguesa, e é preciso construir um sentido positivo para resolver esse mal. Sentido positivo que se ganhará com um processo material, com liberdade, porque nada é divisível. E enquanto não for possível um modelo económico e social que permita a prosperidade dos portugueses, este mal agravar-se-á cada vez mais.

Mas o que eu entendo é que esse modelo económico e social não pode ser criado com prejuízo da nossa tradição e das características morais do povo e da tradição moral portuguesa.

Aplausos do CDS.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Marcelo Curto.

direito à vida parece ter tido a intenção de dizer, pelo menos eu senti assim, que eu, e quando digo «eu» refiro-me a outros deputados, não teríamos respeito pela vida humana.

Pergunto: o respeito pela vida humana, que aqui enunciou, é só o respeito pela vida intra-uterina ou é quando - e é esse o sentido fundamental do projecto de lei do Partido Socialista- estão em concorrência duas vidas e é necessário muitas vezes escolher, opção que é feita, tal como disse o meu amigo