invocou a nossa amizade pessoal e invocou bem, porque só por aí me ficou uma palavra de esperança. E que, realmente, o Sr. Deputado invocou a amizade pessoal como valor cultural e eu confiarei na possibilidade de, como adversários políticos, podermos continuar pessoalmente amigos e isso ser um valor cultural, contribuindo para que tenhamos uma memória. uma história, um passado e uma cultura comuns.

Porque só uma cultura comum garante a democracia neste Parlamento e na sociedade portuguesa; só uma cultura comum garante que, na adversidade e na diferença, possamos estar a dialogar, não pondo em causa o nosso país, a nossa história comum e a nossa cultura comum. Por isso. Sr. Deputado, não queria voltar a ouvir falar de duas culturas portuguesas, pois para mim há apenas cultura portuguesa, e embora essa cultura possa ter várias famílias, ela só tem uma memória histérica, que é a memória do nosso país.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Deputado Manuel Alegre, passando agora àquilo que politicamente nos divide, só lhe quero dizer que lamento que VV. Ex.ªs tenham trazido para aqui a questão confessional e lamento também que tenham trazido para esta Câmara um diálogo que tinha como interlocutor a igreja católica. E que a igreja católica não estava presente neste hemiciclo para responder a VV. Ex.ªs

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - Não é que conteste que queiram dialogar com a igreja católica, mas para isso compreendo e aceito que o Partido Socialista, através do seu secretário-geral, peça audiência à hierarquia da igreja católica. dialogue e fale com a igreja católica.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - Compreendo e não estranho, pois trata-se de uma força importante da sociedade portuguesa. Mas não é nesta Câmara que se dialoga com a igreja católica, pois ela não estava aqui presente, nem tinha aqui representantes seus para responder a VV. Ex.as e por isso é que achei infeliz que VV. Ex.ªs tenham utilizado o Parlamento para dialogar com a igreja católica.

E este o meu protesto em relação à sua intervenção. Sr. Deputado Manuel Alegre.

Aplausos do CDS.

A Sr.ª Zita Seabra (PCP): - Fariseu!

O Sr. Presidente: - Para responder, se o desejar. tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Alegre.

O Sr. Manuel Alegre (PS): - Sr. Deputado Nogueira de Brito, começo pelo fim. Ninguém ignora que as posições da igreja católica inspiram muitas tomadas de posição e o que me parece estranho é que os Srs. Deputados enjeitem essa inspiração que vem da igreja católica!

Vozes do CDS: - Não, não!

O Orador: - Mas ninguém ignora que as posições da igreja influenciaram uma parte da nossa opinião pública. Quem pôs a questão confessional foi a Igreja, e fê-lo em termos que nós consideramos um erro e com o risco da intolerância. Por isso o meu camarada Sottomayor Cardes fez a tal pergunta.

Acreditamos que é possível manter um clima de tolerância e de diálogo tolerante entre as diferentes posições, porque admitimos perfeitamente que a igreja católica defenda a posição que defende. Aliás, seria tão absurdo que a igreja católica deixasse de defender as posições que tem como absurdo seria que o Partido Socialista deixasse de apresentar este projecto de lei e de defender as posições que aqui tem defendido.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Seria um absurdo para uns e um absurdo para outros! Simplesmente, foi a igreja que pôs a questão confessional. Os senhores lamentaram, que levantássemos aqui essa questão. O problema é nosso, nós entendemos que devíamos dialogar e, em certa medida, responder às posições da igreja que tinham incidências de natureza política que se nos dirigiam. Foram feitas ameaças de natureza eleitoral, nomeadamente a ameaça de que os católicos não votassem nos partidos e nos deputados que aqui iam aprovar este projecto de lei e que é, no fundo, um apelo ao voto do eleitorado.

Uma voz do PS: - É verdade!

orweliana!

Felizmente que assim não é, e não é porque grande riqueza da cultura e da história portuguesa está na sua diversidade, na sua pluralidade!

Aplausos do PS, do MDP/CDE e da UEDS.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem á palavra o Sr. Deputado Fernando do Amaral.

O Sr. Fernando do Amaral (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Bem poucas vezes este Plenário terá sido chamado a reflectir, discutir e apreciar problemas tão sérios, complexos e graves como aqueles que esta