integramos em termos políticos, isto é, para encontrar uma forma que possa minimizar, e mais do que isso, superar de uma vez por todas situações gravíssimas que hoje pendem sobre os trabalhadores portugueses.

O Sr. João Abrantes (PCP): - Que miséria!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, para responder, o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): - Sr. Presidente, apesar da falta de tempo, julgo que o Sr. Deputado merece também uma resposta sintética, telegráfica, que me é imposta, como já disse, pela limitação de tempo.

O Sr. Deputado afirmou que eu teria dito ao trabalhador sem alternativa, encostado à parede, com quem falei, que a solução é Governo abaixo para depois terem a barriga cheia. Se o Sr. Deputado quer saber a resposta que dei a esse trabalhador eu digo-lhe qual foi. O que eu lhe disse foi que no quadro da legalidade democrática, no quadro constitucional, há formas de continuar a desenvolver a luta, porque não estão sozinhos. Foi esta a resposta que dei a esse trabalhador.

O Sr. Deputado pode saber que estes trabalhadores, apesar de muitas vezes desesperados, continuam a respeitar a legalidade democrática. Muitas vezes quando se concentram ou publicamente se manifestam, têm o objectivo de sensibilizar a opinião pública e os sentimentos democráticos do povo português. De facto, muitas vezes esses homens não têm outra alternativa porque as portas dos ministérios se fecham sem sequer apresentarem alternativa às suas situações.

Quanto à questão das soluções apresentadas pelo Sr. Ministro das Finanças, lá iremos. Vamos levantar-lhe questões, vamos responder-lhe e com certeza o Sr. Ministro não necessita de advogados de defesa. O Sr. Ministro teve uma vantagem: apresentou-se como um homem que «corta a direito», mas sem alma! Disse que a política não se faz com o coração. Mas a política também não se faz com fome, Sr. Deputado.

O Sr. Deputado confirmou a existência dos casos que o meu camarada António Mota aqui provou e apelou a soluções. Estamos de acordo, vamos a elas, a nossa bancada tem alternativas, apresentou uma

O Sr. João Amaral (PCP): - Muito bem!

O Orador: - Eu disse, Sr. Deputado, que à frente de uma empresa estava uma palavra de ordem que era: «Com o governo do Mário/Nem sequer nos pagam salário». Pensamos que quem se identifica como socialista deve, pelo menos, ter consciência e atender a este grande drama social que são os salários em atraso.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, para um protesto, o Sr. Deputado Rocha de Almeida.

O Sr. Rocha de Almeida (PSD): - Também telegraficamente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, gostaria de lhe dizer que enquanto V. Ex.ª com 12 anos lia isso, eu lia também isso e outras coisas.

O Sr. Vidigal Amaro (PCP): - A Bíblia!

O Sr. Hasse Ferreira (UEDS): - Defende no papel, mas na prática não.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Sottomayor Cardia.

O Sr. Sotto Mayor Cardia (PS): - Sr. Presidente, Srs. Ministros do Trabalho e das Finanças, Srs. Deputados: Apraz-me felicitar V. Ex.as, Srs. Ministros, pelo brilho das intervenções que produziram perante esta Assembleia.

Como os Srs. Membros do Governo sabem e sentem melhor do que eu, a questão dos salários em atraso constitui uma ferida grave na sociedade portuguesa.

Será uma situação inovadora no vastíssimo universo das patologias sociais? Ignoro. Em todo o caso, não surpreenderá que em breve os mais respeitados centros e departamentos que entre nós se dedicam à investigação na área das ciências sociais comecem a produzir eruditas, e obviamente contraditórias, dissertações sobre os variados aspectos sectoriais do tema.

A competência desta Assembleia é contudo bem diversa: é uma competência política. A questão, felizmente, ainda é política.