é esse ambiente que V. Ex.ª não vive a nível político. V. Ex.ª vive rodeado de políticos que ainda há bem pouco tempo eram socialistas e queriam fazer o socialismo, e hoje são liberais e querem fazer o liberalismo - e são os mesmos, Sr. Ministro! Ora, há qualquer coisa de incongruente nesta posição que certamente vai dificultar o discurso da esperança que V. Ex.ª tarda em fazer perante esta Câmara e perante o País.

Sr. Ministro, V. Ex.ª focou fundamentalmente 3 aspectos. Um deles creio que é irrelevante, que é o de dizer que o Governo vai cumprir a lei. Ora, isso é irrelevante porque o Governo é obrigado a cumprir a lei, e se há situações de ilegalidade, elas já deviam ter sido combatidas e, consequentemente, já deviam ter desaparecido.

As outras 2 soluções têm a ver com a viabilização das empresas e com a recuperação da economia. Quem não está de acordo com isso? Quem pode não estar de acordo em viabilizar as empresas e recuperar a economia?

Mas como é que V . Ex.ª vai viabilizar as empresas? Diga-nos. Em relação às empresas privadas, quais as que vão ser escolhidas e de acordo com que critérios? Que meios vão ser colocados ao serviço dessa viabilização? Era isso que nós aqui e os empresários lá fora gostaríamos de conhecer e de ouvir.

Quanto às empresas públicas, como é que elas vão ser viabilizadas? Qual o limite do sector público? Ao menos responda-nos a esta pergunta. Porque é que não se define de uma vez por todas qual o limite do sector público e aquilo que fica fora desse limite não é imediatamente reprivatizado? Essa é uma resposta que tarda a ser dada.

Não chego a dizer que as empresas públicas que não são rentáveis se fecham. Para isso é preciso ter coragem, mas é preciso não ter imaginação nenhuma. É necessário que elas passem de mão, é necessário que elas possam ser rentabilizadas por quem as queira e por quem as possa rentabilizar.

Vozes do CDS: - Muito bem!

ue é que a inflação subiu mais do que em qualquer outro governo?

V. Ex.ª libertou alguns monopólios do Estado - estamos de acordo em relação ao princípio da con-

corrência - mas quantas empresas nacionais apareceram a concorrer nas faixas de mercado que foram libertadas? Quais são essas empresas? Onde está a concorrência de empresas nacionais?

Não se está a correr o risco da lógica do 11 de Março, de tudo pelas empresas estrangeiras e nada pelas empresas nacionais? Quais as condições que as empresas nacionais vão ter em face das empresas estrangeiras? É isso que queremos que V. Ex.ª aqui nos diga porque a resolução dos problemas dos trabalhadores e dos empresários passam por essa definição prévia,

Sr. Ministro das Finanças e do Plano, se me permite, gostaria de lhe fazer uma última advertência: suponho que inflação e desemprego nesta medida são uma mistura explosiva, suponho que as crises que são económicas e sociais podem rapidamente transformar-se em crises de regime. Ora, nós estamos interessados em que isso não aconteça e estamos atentos e colaborantes para que todas as medidas que neste domínio da liberdade e da economia de mercado venham a ser tomadas possam, a curto prazo, ser implementadas.

Sr. Ministro, o discurso da esperança tarda. Faça V. Ex.ª esse discurso porque assim resolverá a situação escandalosa que neste momento estamos a viver.

Aplausos do CDS.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, estamos a aproximar-nos da hora regimental do intervalo e o Sr. Ministro das Finanças e do Plano dispõe de cerca de 20 minutos para responder.

Assim, se a Câmara estiver de acordo, fazemos imediatamente o intervalo e o Sr. Ministro usaria depois da palavra para responder. No entanto, se o Sr. Ministro pretende responder imediatamente, adiaremos o intervalo até final da intervenção de V. Ex.ª

O Sr. Ministro das Finanças e do Plano: - Sr. Presidente, deixo ao bom entendimento da Câmara e de V. Ex.ª a escolha que me foi colocada.

O Sr. Presidente: -- Sr. Ministro, a Mesa não escolhe. No entanto, parece-me que a opinião dos Srs. Deputados é de que V. Ex.ª responda já e que se faça o intervalo depois.

O Sr. Ministro das Finanças e do Plano: - Se é essa a opinião dos Srs. Deputados, é também a minha, Sr. Presidente.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Então tem V. Ex.ª a palavra, Sr. Ministro.