nâmica do lucro e a prevalência das preocupações sociais.

Melhor é pois reconhecermos as culpas que tivemos e não tivemos, antes da actual Constituição e após ela, caindo em nós, de uma vez por todas, para a evidência de que não foi a Constituição que nos impediu de acertarmos mais e sermos melhores. Uso o plural, precisamente para desautorizar os que gostam de imaginar que os culpados são sempre os outros. A este respeito, fico-me par aqui, com alguma delicadeza de espírito.

Mas, prescrita em dado momento a dosagem considerada mais certa, constituiria grave erro armarmo-nos em novos «12 de Inglaterra» pró sector público ou pró sector privado, ao estilo de agora estatizo eu, agora liberalizas tu. A este respeito, algumas recentes profissões de fé liberalizante, a pensar na Sr.ª Thatcher sem a sua relva, a sua City e o seu petróleo, revelam até que ponto somos uns ases a discutir as Índias enquanto o navio se afunda.

Aplausos do PS.

O País, Srs. Deputados, não aguenta mais querelas, mais ideologias, mais polémicas de doutores. Se a Constituição tem defeitos, é sempre tempo de corrigi-los. Somos coerentes mas não somos fanáticos. Infelizmente, não temos esse mesmo tempo de espera em relação a decisões e trabalhos de que depende o amanhã de cada dia.

que é da sua recíproca complementaridade que há-de fiar-se a superação da crise, cabendo admitir que esse objectivo já esteve mais longe.

Vai também sendo tempo de descobrir que a propriedade pública de um sector confinado da economia está longe de ser socialismo, sobretudo quando é evidente que, mesmo as empresas desse sector, laboram - com raras excepções - segundo as regras do mercado e são administradas de acordo com os cânones da gestão capitalista. 15to é assim, goste-se ou não!

Até por isso, não custa concluir que o nosso sistema económico se rege predominantemente, no seu conjunto, pelas leis da concorrência e do mercado, valendo a pena realçar que, após a abertura dos sectores bancário e segurador, além de outros, à iniciativa privada, tende a ser cada vez mais assim.

Ganharíamos, por isso, tempo e paz de espírito, pondo-nos de acordo sobre estas elementaridades. É que não faz sentido o movimento inverso de, hoje a propósito dos salários em atraso, amanhã a propósito de não importa que remada contra a maré, tentarmos uma «guerra do Biafra» entre sectores, agora avançando o público, amanhã progredindo o privado, para além dos limites da fronteira natural de um e outro.

Ao público o que é do público, ao privado o que é do privado. A este, pois, as suas dívidas, o seu responsável por elas, os seus lucros e as suas perdas, os seus êxitos e as suas quebras.

Defendo então, a propósito dos salários em atraso, uma concepção de Estado Pôncio-Pilatos? De modo nenhum! O Governo não deve ser nem é indiferente ao drama de milhares de famílias sem salário. Como não é indiferente a milhares de trabalhadores sem emprego, a milhares de estudantes sem escola, a milhares de doentes sem hospital, a milhares de famílias sem casa e, infelizmente, a algumas bocas sem pão.

Ponto é saber se, condoído embora, está ao seu alcance proporcionar a todos o que lhes falta. É, aliás, de todos os dias, a concessão de subsídios a empresas em dificuldades para manutenção de postos de trabalho, bem como a afectação de crédito de alto risco à viabilização de empresas ou à consolidação do seu passivo. Vêm daí, em parte, a situação das finanças públicas e os gonha do trabalho não pago.