Quando estávamos presos e pessoas como o senhor eram ministros, também nessa altura queríamos discutir convosco, mas posso dizer que, nessa altura, para um preso se dirigir a um ministro tinha que obter ...

O Sr. Adriano Moreira (CDS): - Sr. Deputado Carlos Brito, em que ano é que esteve preso?!

O Orador: - Depois digo-lhe.

Vozes do CDS: - Ah!

O Orador: - Posso dizer-lhe que estive preso muitos anos. A última vez foi entre 1959 e 1966. Nessa altura o senhor já era ministro. Como vê, não estava a inventar.

Mas como estava a dizer, para um preso se dirigir a um ministro tinha que obter autorização do director da prisão e depois do director da PIDE, e geralmente não conseguia obtê-la.

Por isso discuto hoje, com contentamento, com um membro de um governo que me prendeu e me torturou e devo dizer-lhe, Sr. Deputado, que usou, hoje, aqui, na Assembleia da República, uma frase extremamente infeliz: disse que eu era um caso perdido. Esta frase, Sr. Deputado, era típica da PIDE.

Vozes do PCP: - Muito bem!

gestores e aos responsáveis governamentais?

Finalmente, desejaria saber se o chamado Plano Energético Nacional, que tem sido alvo das mais variadas críticas, tanto nacionais, como internacionais - do Banco Mundial, por exemplo -, vai ou não ser discutido na Assembleia da República antes que se tomem quaisquer compromissos financeiros, «atlantistas». Ela hoje não tem mais lugar. O senhor trouxe hoje para aqui essa polémica, tal com ela se travava nos finais da ditadura fascista, ditadura que, não tenha dúvidas, nunca mais se verificará em Portugal.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - O senhor defendeu essas ideias durante a última campanha eleitoral e precisamente na última campanha eleitoral o CDS perdeu 16 deputados, mais do que o número de deputados que agora aqui tem representados.

A lição que devia ter retirado da última campanha eleitoral é a de que não queremos mais esse vosso discurso, não queremos mais essa doutrina.

Mas se se trata de discutir as questões concretas, vamos discuti-las.

Por exemplo, a questão dos capitais. Não nos referimos, como é evidente, aos capitais das comunidades, temos o maior respeito pelos emigrantes. Aqui mesmo, na Assembleia da República, temos intervindo várias vezes, inclusive apresentado iniciativas legislativas, sobre a situação dos emigrantes. Não venha, pois, com esses argumentos.

Vamos, isso sim, discutir sobre os grandes empresários, os grandes potentados, os que detêm o grande capital português e que fizeram sair do País os seus capitais. E fizeram-nos sair, porquê? Por patriotismo, Sr. Deputado?

Com que preço é que esses capitais regressarão, se regressarem, ao nosso país? Que preço é que os capitalistas exigem ao país? Que preço exigem à Nação, para usar uma palavra que lhe é cara, dita desta maneira redonda? Que preço exigem ao Estado Português? Que preço exigem a Portugal? Olhe o exemplo da LISNAVE, do Sr. José Manuel de Mello.

Para reerguerem o seu poder, para reerguerem os privilégios, eles exigem o preço da ruína da economia, é talvez o preço de uma nova opressão, é talvez o preço de uma nova ditadura, e nós a isso dizemos: não, não queremos cá esses capitais por esse preço! Não à ditadura, não à nova opressão! Por esse preço não queremos cá esses capitais!

A Sr.ª Ilda Figueiredo (PCP): -Muito bem!

O Orador: - O que o senhor pretende é aquilo que nós não pretendemos, porque esses capitalistas não têm pátria: eles saíram de Portugal, eles atentaram contra a pátria portuguesa e só regressarão se, de novo, puderem esmagar, espezinhar e oprimir a pátria portuguesa. É por isso que nós não os queremos.

Aplausos do PCP.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Grandes optimistas temos nós!

O Sr. Presidente: - Para fazer um contraprotesto, tem a palavra o Sr. Deputado Adriano Moreira.

O Sr. Adriano Moreira (CDS): - Sr. Presidente, para um contraprotesto e para mais um exercício de paciência.

O Sr. Carlos Brito (PCP): - Paciência temos nós!

O Orador: - O Sr. Deputado Carlos Brito quando quer fazer uma interpelação ou uma pergunta há-de interpelar ou perguntar sobre o que digo e não sobre o que o senhor quer.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - O senhor quer discutir os privilégios, o senhor quer discutir o poder económico que domina