portuguesa. E aí honra seja feita ao Sr. Ministro das Finanças, que, pela sua seriedade, permitiu abrir à própria classe política portuguesa um outro estilo, pelo menos nisso, no tratamento das questões económicas.

Ê hoje geralmente aceite por todos que há uma crise grave em Portugal que transcende cada partido e cada governo e que é, como se viu aqui durante esta interpelação, uma crise do próprio sistema económico. Mas é também verdade que já desde a vigência de governos anteriores se anda a dizer que se vai vencer a crise. Não foi este o primeiro Governo que disse que se ia vencer a crise. Muitos governos andaram a dizer sinceramente que iam vencer a crise, mas a crise não tem sido vencida, antes tem sido agravada.

Foi por isso que o CDS propôs nesta Assembleia, quando falou na revisão da constituição económica, que, em vez de se vencer a crise, pensássemos em vencer o sistema que produz sempre, repetidamente, a mesma crise.

Aplausos do CDS.

Partilhamos, inclusivamente com o Sr. Ministro das Finanças, a ideia de que entre 1973 e 1983 se foram acumulando erros no domínio económico. Em 1973 estava no auge a era do petróleo e a megalomania industrial. Existiam ainda ou, melhor, resistiam ainda o corporativismo e o império e tínhamos uma relação capital/trabalho relativamente favorável ao primeiro, num quadro, aliás, em que emigrar era ainda fácil. Depois de 1973 não tivemos suficientemente em conta a alteração radical de todos estes factores e nalguns casos até os agravámos.

Digamos, por exemplo, que socialismo e revolução vieram substituir, em grande eloquência económica, os temas corporativismo e império. Não terá sido mesmo por acaso que os ex-economistas do secretariado técnico da Presidência do Conselho de Ministros se transferiram maciçamente a seguir ao 25 de Abril para os gabinetes económicos dos partidos da actual coligação. Algumas forças, é certo, remaram contra, como a ala liberal, como a primeira industrial, em comissão de cooperação técnica - façam lembrar nos seus termos exactos as leis do fomento industrial, comissões de fomento industrial, fundos de fomento industrial. Não

é por acaso que na economia actual são os interesses que se estão a desenvolver, e não a satisfação das necessidades dos trabalhadores nem a vitória dos lucros, das empresas.

Aplausos do CDS.

É por isso que não é em nome de interesses que vimos aqui pedir a liberalização da sociedade portuguesa.

Risos do PCP.

É exactamente contra os interesses e contra o corporativismo dos interesses que está a instalar-se sob a capa e o disfarce da maior maioria se sempre.

O Sr. Carlos Brito (PCP): - Ora aí está!

O Orador: - É aí que temos de situar o nosso combate, ...

O Sr. Carlos Brito (PCP): - Ninguém tem dúvidas disso! ...

O Orador: - ... revogando os impedimentos que existem, porque enquanto houver impedimentos à iniciativa haverá uma respiração artificial da economia portuguesa.

É a libertação de economia portuguesa que está por fazer. é o 25 de Abril da economia portuguesa que está por fazer. A revisão económica da Constituição não é senão a ideia de que os Portugueses podem empreender em Portugal e de que quando querem empreender não têm que ir para o Canadá, para os Estados Unidos, nem lá para fora.

Risos do PCP, da UEDS e de alguns deputados do PS.

É a recusa da ideia de que a nova «concorrência coexistência!» não deve ser entre as multinacionais e o sector público, mas deve ser, sim. através do relançamento da economia, da iniciativa e dos empresários portugueses.

Aplausos do CDS.

Sr. Primeiro-Ministro. Sr. Ministro das Finanças e do Plano: Não há nenhuma política económica, se ela for apenas trabalhada nos laboratórios do poder e se os principais agentes dessa política - trabalhadores e empresários - não acreditarem que essa política pode ser levada avante.

Uma coisa é certa: nem trabalhadores nem empresários acreditam que a política deste governo, tal como foi conduzida até hoje, pode levar este país aonde quer que seja. É esta a questão que tem de ser dita e invocada com seriedade e com gravidade no único e no principal foro democrático do País. Quem quiser esconder esta realidade, com risos ou de outra maneira, está a prestar um mau serviço ao futuro das novas gerações, que não querem passar do automóvel para a bicicleta, mas querem, sim. ter em Portugal um país próspero, rico e capaz.

Aplausos do CDS.