Sr. Presidente, vou terminar com um apelo. Um apelo sincero e não um apelo reservado ou avaro, mas generoso. É o apelo de que nos possamos entender sobre esta questão da revisão económica da Constituição, porque o que a situação tem demonstrado é que não há «concorrência coexistencial», mas 3 sistemas económicos em Portugal.

Nós não somos tão liberais como pode parecer.

Protestos do PCP e de alguns deputados do PS.

Queremos, inclusive, uma economia mista. Mas uma só economia, e não 3 economias, porque 3 racionalidades económicas são o mesmo que uma irracionalidade económica. É aqui que é preciso fazer as transformações com o sentido do geral, com o sentido do futuro. Sentido que esperava que, apesar do actual pragmatismo, ainda não faltasse de todo à esquerda portuguesa. Ou seja, que não faltasse de todo à esquerda portuguesa o sentido do geral e o sentido do futuro de um luta, que sabe que só haverá paz social e política em Portugal se não houver privilégios do sector público e se os parceiros sociais se puderem entender numa base de igualdade, e não numa base de privilégio do sector público.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: O próprio Governo, apesar dos seus arcaísmos ideológicos, já admitiu que estamos, aliás, perante o novo mundo, perante uma terceira revolução industrial, e que é preciso acompanhar esse passo.

Porque é que não havíamos nós também, hoje, de assumir a corage m que o 25 de Abril devia ter tornado mais fácil e passarmos por cima, em vez de continuarmos a passar por baixo, do desafio económico dos anos 80?

É esse o nosso desafio ao Governo, aos seus deputados e aos seus partidos.

Aplausos do CDS.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

Aplausos do PS, do PSD e da ASDI.

O Sr. Primeiro-Ministro (Mário Soares): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: No espaço de uma semana o Governo foi duas vezes interpelado sobre a sua política económica: primeiro pelo Grupo Parlamentar do PCP e agora pelo do CDS. A incidência das preocupações dos partidos interpelantes variou bastante: no primeiro caso, os salários em atraso e a problemática do emprego estiveram no centro do debate; no segundo, discutiu-se principalmente a chamados matéria vaga.

Risos do PCP.

omo disse o deputado Basílio Horta, não quer que o considerem um «partido mole», interpela porventura mais para corresponder e dinamizar interesses e rivalidades do seu Grupo Parlamentar do que para apresentar sugestões ou propor seriamente soluções de alternativa. Por contraste, ressalta assim melhor a posição de equilíbrio, não condicionada por preconceitos ideológicos, realista e pragmática do Governo, como a única orientada para vencer em concreto as dificuldades do País, na actual conjuntura económica internacional e dadas as carências e os condicionalismos internos, que são de todos conhecidos. Obviamente que o problema dos salários em atraso e do desemprego - em especial a dificuldade em obter o primeiro emprego - é uma questão que preocupa o Governo em altíssimo grau, como vários ministros aqui referiram. Bem como a aceleração da inflação a que assistimos nos últimos meses, embora em Janeiro último se tenha verificado uma significativa redução.

A Sr.ª Ilda Figueiredo (PCP): - Mas em Fevereiro acelerou outra vez. Mas aí jogam decisivamente dois factores essenciais: tempo e estabilidade política e social. Sem o que, por maiores que sejam os esforços conjunturais, os problemas estruturais serão sempre adiados, não haverá reformas de fundo nem recuperação económica possível. Nem se poderá lutar consequentemente contra a inflação nem, muito menos ainda, contra o desemprego.

O Governo tem escassos 8 meses de existência e ninguém ignora o ponto crítico de que partiu. Foi mesmo a iminente ameaça de ruptura financeira que constituiu o pano de fundo da crise política que então se viveu e que forçou, depois das eleições de Abril, os 2 maiores partidos políticos portugueses a coliga-