se ela morre no estio da doença, sua quando a corta para as máquinas do consumo. E quando, anos a fio, não se cansa de a olhar, chora se a vê partir por entre labaredas de fogo. São essas as imagens da minha infância.

E, depois de uma vida de trabalho, o homem do interior envelhece a olhar para o horizonte por onde ela viajou. A caminho de outros braços. Daqueles que a não fizeram nascer mas que a usufruem; daqueles que a não viram crescer, mas a compram para viver; daqueles que a não viram morrer, mas que vivem por ela ter morrido.

Quando em Portugal se fala dos desequilíbrios regionais, em pólos de desenvolvimento e em custos de interioridade, pergunto se não estaremos a ser hipócritas. Entre a serrania e o litoral, o campo e a cidade, a aldeia e Lisboa, o poder de compra varia na razão de 1 para 2.

Há, então, que perguntar se não é o homem do interior que alimenta, em parte, os cofres exaustos do Banco de Portugal com as remessas que envia de terras longe que demandou. Há que perguntar se não é o homem do interior que produz a floresta e concorre assim com 20% para o total das nossas exportações. Há que perguntar como seria Portugal se a riqueza que flui dos caminhos perdidos do interior não fosse transportada e aplicada preferencialmente nos grandes centros urbanos do litoral.

E ao fazer tais perguntas, há que saber quando se estabelecerá o equilíbrio na troca de bens e serviços entre a orla marítima e o interior. Bem sabemos que as modificações estruturais da economia não se introduzem de um dia para o outro. Também sabemos que Roma e Pavia não se fizeram num dia.

O Sr. José Manuel Mendes (PCP): - Nem numa noite!

O Orador: - Mas quero acreditar que este Governo tudo fará para reduzir distâncias e aproximar os homens. Por isso, e para concluir, relembro que o Governo se comprometeu no programa aprovado nesta Assembleia da República a «aumentar qualitativamente a produção de bens florestais no contexto de uma incisiva política de aproveitamento em uso múltiplo dos espaços não agricultados».

Só que a desesperança tarda em ser esperança. Apesar de amanhã chegar a Primavera.

Aplausos do PS, do PSD, do MDP/CDE, da UEDS e da AS Dl.

O Sr. Presidente: - Ficam inscritos para pedir esclarecimentos os Srs. Deputados João Abrantes, Antunes da Silva, Corregedor da Fonseca e António Taborda.

Srs. Deputados, ultrapassámos já a hora regimental para o período de antes da ordem do dia porque havia declarações políticas que tinham de ser produzidas hoje.

Entretanto, deu entrada na Mesa um requerimento que, em termos regimentais, pede o prolongamento do período de antes da ordem do dia, subscrito por alguns deputados do PCP.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - Dá-me licença, Sr. Presidente? É para interpelar a Mesa.

O Sr. Presidente: - Faz favor, Sr. Deputado.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - É que é a segunda vez que o PCP apresenta um requerimento solicitando o prolongamento do período de antes da ordem do dia, e nós leremos inexoravelmente de votar contra se o PCP não nos disser qual é a urgência que justifica o prolongamento, caso em que votaremos a favor.

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Sr. Presidente, peço a palavra para interpelar a Mesa

O Sr. Presidente: - Faz favor, Sr. Deputado.

O Sr. José Luís Nunes (PS): Sr. Presidente. Peço a palavra.

O Sr. Presidente: - Faz favor, Sr. Deputado, mas pedia-lhe que fosse rápido na sua intervenção.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - O Sr. Deputado Jorge Lemos e talvez um bocado novo nestas andanças e na verdade o que se passa e que eu não quero, de forma nenhuma, saber o conteúdo da intervenção do PCP, nem me passa tal ideia pela cabeça; sabê-lo-ei quando a referida intervenção for produzida.

Mas o que é habitual quando um grupo parlamentar pretende apresentar um requerimento deste teor e dar uma satisfação aos outros grupos parlamentares dizendo que se considera essencial fazer uma intervenção sobre determinado assunto para a qual não há tempo disponível. Nesse caso, inequivocamente, sem qualquer outro intuito, nós daríamos o nosso assentimento. Mas sempre que apareça um simples requerimento sem qualquer fundamentação ou acordo prévio, nós votaremos contra.

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Peço a palavra, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, eu dar-lhe-ei ainda a palavra, mas após a sua intervenção submeterei imediatamente o requerimento à votação.

Faça favor.