O que eu disse é que o Sr. Primeiro-Ministro poderia ser amanhã, dia 17, com o Serviço de Informações criado, a primeira vítima, a ser o primeiro Primeiro-Ministro preso, pelos seus próprios serviços. Isto é o que habitualmente acontece, ou seja, o desenvolvimento em regime democrático de forças ligadas aos serviços de informação que podem ir tão longe, se não forem controladas -a Itália é um exemplo-, que levem a que quem estiver no poder seja a primeira vítima daquilo que criaram para manter a democracia.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Costa Andrade.

O Sr. Lopes Cardoso (UEDS): - Posso interrompê-lo, Sr. Deputado?

O Orador: - Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Lopes Cardoso (UEDS): - Muito obrigado, Sr. Deputado.

Penso que isso será fazer um paralelo entre uma proposta ou um projecto de lei que é discutido na generalidade e a sopa da pedra e não propriamente a pedra da sopa. Quando aprovamos um diploma na generalidade, não estamos a aprovar a pedra que irá depois dar o caldo consoante os ingredientes que iremos adicionar. Estamos a aprovar algo mais do que uma pedra. Portanto, não 6 pelo facto de considerar necessário um serviço de informações que vamos aprovar qualquer lei que na generalidade diga que é criado o serviço de informações.

, que é uma nota essencial ao poder democrático- sem força. Não compreendo como a autoridade possa prescindir da força, pois num Estado de direito a força é uma componente essencial do direito. Tem de haver força, sob pena de o direito não ser direito, mas sim qualquer utopia, um idílio, enfim, acreditarmos que vivemos numa sociedade de anjos, fechando os olhos à conflitualidade real das pessoas.

Dizem os sociólogos -e eu propendo um pouco a acreditar que sempre que se acredita à partida em modelos de não conflito, sempre que se aceitam modelos de consenso, normalmente acabam por se introduzir modelos verdadeiramente ditatoriais. Esta é, como o Sr. Deputado sabe, a tese do sociólogo Ralf Dahrendorf, nosso contemporâneo agora muito em moda, segundo o qual é mais realista abrir-mo-nos aos conflitos e aceitá-los do que pressupor uma sociedade de consenso.

A pergunta que lhe quero fazer relaciona-se com o facto de o Sr. Deputado dizer que a experiência ensina-nos que os

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Octávio Cunha.

O Sr. Octávio Cunha (UEDS): - Sr. Deputado Costa Andrade, quanto à caracterização que fez das minhas intervenções, creio que quando o homem perder a capacidade de imaginar e uma certa capacidade de utopia, o melhor será ir «dar uma volta». Mesmo nesta casa, onde se tratam problemas concretos, não ficará mal a ninguém ter a certeza de vez em quando que é possível, apesar de tudo. Ora, essa certeza eu ainda não a perdi e, como tal, continuarei no seu dizer - a ser utópico e talvez um pouco fora do tempo. Mas eu sou assim ...

Relativamente à necessidade da força, é evidente que ela é necessária. Mas tora de ser uma força que não vem seguramente do cassetete nem da mentira. O Sr. Deputado sabe muito bem que essa é muitas vezes a força que e utilizada mesmo dentro do regime democrático, que a dado passo já não a controla.