O Orador: - E é sintomático também terem sido exactamente os operários e os camponeses, entre os quais os comunistas, esses mesmos trabalhadores hoje acusados par alguns de serem os causadores da crise económica, o terem sido eles, repito, sujeitando-se quantas vezes a enormes privações e sacrifícios, que reabriram em inúmeros casos as empresas falidas e, que tornaram novamente produtivos e férteis as terras abandonadas.
Vozes: - Muito bem!
Aplausos do PCP.
O Orador: - E, ao nível do Governo, foram ainda os representantes do PCP que sistematicamente defenderam uma política que, ao ter em conta os interesses dos trabalhadores e à custa naturalmente dos monopolistas e latifundiários, apontava para o saneamento, da economia, rumo a uma sociedade mais justa.
E foi de facto o PPD e foi também o PS os que, nos Governos anteriores, preconizaram medidas que agradassem asas capitalistas, ...
O Sr. Aquilino Ribeiro (PS): - Não apoiado!
O Orador: - ... mesmo que à custa, evidentemente, das massas trabalhadoras.
Uma voz: - Isso é verdade.
De resto, hoje que esses partidos alcançaram a hegemonia no Governo, tal política aparece publicamente: é o congelamento de salários, em paralelismo com a elevação planificada, violenta e por vezes artificial (o preço, por exemplo, da gasolina em Portugal é dos mais caros do Mundo), dos bens de consumo corrente, ...
Vozes de protesto.
... o que significa, na prática, uma redistribuição da riqueza de sentido oposto à do ano passado e a favor do capital.
Esta é a política económica do PPD e do PS, para a qual o PCP não foi ouvido ...
O Sr. Pedro Roseta (PPD): - E qual é a vossa política?
O Orador: - ... e sobre a qual não pode assumir, por isso, quaisquer responsabilidades.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: O PCP continua a considerar inseparáveis no nosso país uma ampla democracia política e uma ampla democracia económica.
É que uma política económica e social antipopular, que ponha em jugo as grandes conquistas revolucionárias do nosso povo, só poderá efectivar-se em aberta oposição a este, só será possível através do uso da força, através da ditadura e, em última análise, através de um breve regresso ao fascismo.
No Portugal de hoje pretender a recuperação económica do grande capital ou dos latifundiários será, na prática, negar a democracia e aceitas o fascismo.
Desejoso de preservar as liberdades, pelas quais tanto lutou, e as reformas económicas e sociais - as nacionalizações, a Reforma Agrária, o controle operário da produção e a melhoria das condições de vida das massas populares -, que são a garantia de um futuro próspero para o País, o PCP continuará a lutar pela coexistência das democracias política e económica e a denunciar todas aqueles que pretendam iludir a necessidade de tal coexistência.
Há situações que seriam curiosas, se não fossem tendência de grande perigo na conjuntura presente.
Aqueles que injustamente acusaram o PCP de querer monopolizar os órgãos de informação, ...
... monopolizam-nos hoje, de facto, e suspendem com esse fim dezenas de jornalistas e outros trabalhadores do Diário de Notícias, de O Século, da rádio e da televisão.
Vozes de protesto.
Uma voz: - 130.
Vozes: - 151.
O Sr. Presidente: - Façam favor de não interromper o orador.
O Orador: - É certo que o PCP foi convidado a participar na distribuição, mas é evidente que teria de recusar, dada a arbitrariedade e o abuso que significa a utilização exclusiva por partidos temporariamente no Governo de uma imprensa nacionalizada e paga por toda a Nação.
Vozes de protesto.
Outra voz: - Não é agradável ouvir.
Vozes: - Não gostam de ouvir, não gostam.
Uma voz: - As verdades têm de se saber.
O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: Façam o favor de não interromper. O Regimento não permite interrupções deste tipo. Façam o favor de não interromper.
Burburinho.
O Sr. Deputado Magro tem a palavra.
O Orador: - Fala-se em eleições para breve. No espírito da defesa das mais amplas liberdades , que é o seu, o PCP apoia a realização de eleições, e até também de eleições para breve.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - O que pretende, de acordo com aquele espirito, é que tais eleições sejam realmente livres.
O Sr. Pedro Roseta (PPD): - No Alentejo! ...
O Orador: - Ora, é evidente que não poderiam considerar-se livres as próximas eleições se viessem