O facto de o Governo continuar a não ser capaz de formular uma coerente política económica pode ser essa chispa; como o podem ser convulsões de rua de tipo daquelas que, no começo de Janeiro ensombraram com mortes dias tradicionalmente marcados pela consciência da paz e à esperança.

Do mesmo modo, a continuarem os apetites daqueles que parecem preferir a clandestinidade no fascismo, à luta aberta de oposição legal na democracia; a continuarem as manipulações de massas, com a ajuda de estrangeiros, podem rapidamente, criar-se condições para graves dramas na vida colectiva dos portugueses.

Sabemos bem quem se poderá aproveitar dessa situação se ela vier a ocorrer. Serão aqueles à direita ou à esquerda que não querem as liberdades democráticas.

É bom que a esquerda democrática não se iluda. É bom que a esquerda no Governo saiba que só há uma possibilidade de salvar a democracia: governar com coerência, coesão e competência; respeitar e valorizar a oposição, como é próprio da democracia.

É nossa convicção que o deslizamento do País para a ditadura - e a de direita volta a ser hoje mais provável do que a de esquerda - só poderá ser travado se o Governo for capaz de assegurar aquelas condições. E é também nossa convicção de que a salvaguarda da democracia exige, mais do que nunca, aquilo a que chamamos a «centrização» dos sectores sociais potencialmente mobilizáveis pela direita.

A centrização da vida política em Portugal não se fará, porém, através do «antipecepismo». Até quando, o antipecepismo será trunfo partidário capaz de calar a justa e indignada voz dos portugueses que, cada dia, vivem com menos esperança, com mais dúvidas?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Decerto que não vai ser fácil que nos esqueçamos daquilo que pensamos serem as graves responsabilidades morais e políticas do «pecepismo» e do «gonçalismo». Decerto que continuamos a não compreender que algumas forças políticas tenham desejado manter a colaboração com este PCP, quando este se recusou a cumprir um mínimo de condições políticas e morais para que tal pudesse acontecer. Mas não poderão as forças democráticas continuar indefinidamente a invocar o «pecepismo» ou o «gonçalismo» para explicar tudo, como não era possível ao gonçalismo evocar permanentemente a «herança fascista» para explicar o desastre da sua política.

Uma voz: - Muito bem!

criarão as condições de instabilidade favoráveis a novos golpismos pseudo-redentores, ainda que de outra cor. E talvez a história venha a reconhecer que foi também graças aos democratas centristas, da sua recusa em embarcarem no jogo oportunista do eleitoralismo mais primário, que a democracia teve condições para se salvar em Portugal. Estamos dispostos a honrar esta missão, na pedagogia política que nos cabe como partido de oposição, profunda e inequivocamente empenhado na democracia social avançada que desejamos ver construída. Oxalá outros, que se reclamam de posições à nossa esquerda, e que estão no Governo, também assim o saibam entender, pela coerência das suas posições, pela clareza das suas atitudes. De outro modo, a convulsão social atingirá tais dimensões que os riscos corridos pelo projecto democrático serão incalculáveis.

Pelo nosso lado, estamos dispostos, sem abdicar dos nossos direitos de oposição que continuamos a reivindicar, a participar no diálogo nec essário para a sobrevivência e consolidação da democracia.

Mas o Governo e as restantes forças políticas têm de compreender com rapidez uma política que, definitivamente, conduza ao desbloqueamento psicológico das tensões que se estão a acumular em torno da nossa vida colectiva. Não basta que o Conselho da Revolução se preocupe com a especulação em torno da alta do custo de vida. Essa especulação só pode cessar se ao aumento do custo de vida forem dadas as respostas económicas, políticas e psicológicas necessárias.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado: Pedia o favor de concluir, porque tem já muita tolerância.

Uma voz: - No Tempo ...

O Orador: - Trabalho que muitos deles continuam a exercer em órgãos ditos estatizados. Pessoalmente, devo dizer que tenho as mais sérias reservas sobre o princípio da existência de jornais dependentes do Governo. Julgo que haveria soluções capazes de me-