O Orador: - Curioso é que a farsa aparece aqui devidamente acompanhada pela comédia ...

O Sr. Pedro Roseta (PPD): - Olha quem fala ... um bom comediante ...

O Orador: - De degrau em degrau o Partido Popular Democrático ...

Burburinho.

... põe hoje em causa a Assembleia Constituinte porque lhe desagradam as posições tomadas. Amanha procurará dissolver o povo se este não compreender a luminosa mensagem que a popular democracia lhe traz ... E um dia, esquecidos os desvarios das noites quentes de Julho de 1974 que sucederam ao 25 de Abril, pois, necessariamente, acabará desejando que o 25 de Abril possa ser substituído por um novo 28 de Maio! Todos aqueles que, mediante uma errada leitura dos factos, viram no 25 de Novembro uma derrota do socialismo em liberdade estão profundamente enganados.

Desembaraçando-se da anarquia e da irresponsabilidade reinantes, o País criou bases mais sólidas e mais firmes para, na democracia e na liberdade, avançar na construção de uma sociedade sem classes.

A reacção, perderá o comboio da história, tal como aconteceu com o falso esquerdismo!

No fim do caminho está a vitória do povo português!

Aplausos.

Conhecemos os homens e, como Jean Jaurés, a creditamos no seu «destino incomparável». Sabemos que «as força da luz, da verdade e da sabedoria não triunfam num súbito e total raio de luz, mas através de uma lenta série de auroras incertas»; sabemos que todas as revoluções, todos os processos revolucionários têm avanços e têm recuos.

Confiamos no destino incomparável do povo português.

Uma voz: - O povo é que não confia em vós.

Agitação na Sala.

O Orador: - Estamos certos de que saberá compreender ...

Agitação na Sala.

... saberá compreender ...

O Sr. Presidente: - Peço silêncio, para que o orador possa ser ouvido e para que o Presidente não se sinta na necessidade constante de chamar a atenção da Assembleia.

Continua no uso da palavra o Sr. Deputado José Luís Nunes.

O Orador: - É verdade, ainda continuo no uso da palavra. Muito obrigado.

Dizia eu que confiamos plenamente no destino incomparável do povo português, que saberá compreender que o plebiscito permanente é o golpe de Estado permanente!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Saberá defender as instituições democráticas, através das quais expressa a sua vontade; saberá lutar pela defesa das suas conquistas revolucionárias; compreenderá o que pretendem os falsos amigos do povo, que, na crítica aos erros conjunturais cometidos, pretendem, sobretudo, pôr em causa as opções de fundo.

Uma voz: - Muito bem!

O Orador: - É curioso que a história, tal como os deuses, desminta aqueles que quer perder ... Os pseudo-revolucionários, Sr. Presidente e Sr. Deputados, não passarão.

Mas os reaccionários, encobertos ou não, também não passarão!

(O orador fez a sua intervenção na tribuna.)

Vozes: - Muito bem!

Aplausos de pé.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Jorge Miranda quer pedir esclarecimentos?

O Sr. Jorge Miranda (PPD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Ouvi com a maior atenção a intervenção do Sr. Deputado José Luís Nunes, ilustre colega, que disse coisas acertadas, mas, também, permita-me que lhe diga, disse algumas coisas não acertadas.

Vozes (em coro): - Ah! Ah!

Burburinho.

O Orador: - As suas preocupações quanto à necessidade de uma estabilização da vida política nacional são também as nossas, não apenas as minhas, como, estou convencido, as de todos os membros do Partido Popular Democrático.

Vozes de protesto.

Agitação na Sala.

Todavia, devo dizer que talvez tenha ido longe de mais na interpretação de afirmações feitas, a título puramente pessoal, por uma pessoa que nem sequer é Deputado. Queria fazer-lhe quatro pedidos de esclarecimento.

Uma voz: - Só?!

O Orador: - Em primeiro lugar, se em teoria geral, se em tese geral, considera que a existência ou a prática do referendo é, por si só, antidemocrática. Se o é, como explica que países tão democráticos como a Suíça o utilizem com tanta frequência?

Uma voz: - Já vais na Suíça?!

Burburinho.