O Orador: - ... de uma descolonização inelutável, acompanhada de múltiplas tragédias humanas - a burguesia reaccionária e os conspiradores acariciam ilusões às quais dão a figura dos seus desejos.

Servem-se de todos os meios, sem escrúpulos, e investem com arrogância, como feras feridas, contra esta revolução libertadora do homem português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Bombas, incêndios de sedes de partidos políticos, ataques à mão armada, banditismo, terrorismo político, anticomunismo primário e até anti-social-marxismo! ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Só faltam os assassinatos de personalidades políticas para que esteja criada, neste país, a mesma conjuntura deletéria que precedeu o assalto das hordas fascistas de Sanjurjo e de Franco contra a jovem República Espanhola.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tudo é feito para criar uma exacerbação psíquica da população, facilmente justificada nos desmandos alucinantes de um aventureirismo romântico e irresponsável de plagiários de revoluções inadaptáveis ao sentimento do povo português!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nem sequer se poupa a dignidade das pessoas!

Ataques frontais aos militares progressistas s democratas, aos Ministros, considerados muito à esquerda!

Insinuações e calúnias desavergonhadas dirigidas contra personalidades políticas! Afirmações aparentemente inofensivas são servidas em invólucros de hipocrisia, mas que nem por isso deixam de ter um carácter de insinuação malévola!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Saboreiam, Srs. Deputados, estas referências untuosas:

Ah! Senhores Deputados, que se pretende? Atingir a minha dignidade de combatente dá liberdade?

Pois bem! Sim, Doutor Francisco de Sá Carneiro, tenho nostalgia daqueles momentos de esperança, em que, no exílio, foi anunciada a existência de uma organização de luta contra o regime fascista de Salazar! E que organização? E que LUAR? O povo português vai saber, ao tomar conhecimento do documento inédito que vou ler:

Ao povo português.

l.º A nossa Pátria, subjugada por um regime corruptor e corrompido onde o civismo dificilmente se pode manifestar e onde parece que os homens aceitaram a resignação como condição ingénita da vida, foi atirada para o último lugar da hierarquia das nações europeias.

Um povo iletrado, com um nível de vida inferior que não permite assegurar a dignidade humana, defronta-se, quase exclusivamente, com as preocupações de sobrevivência, do dia-a-dia.

Um povo expulso da Pátria para um exílio forçado, com miragens em possibilidades económicas obtidas à custa de um labor exaustivo, mortifica-se com saudades da Pátria, dos amigos e dia família.

Um povo aterrorizado por uma repressão policial desumana, sem possibilidade de usufruir dos direitos mais elementares de cidadania, aviltado pelo medo, só espera, com ansiedade, o momento de poder recuperar a dignidade dos homens livres.

Uma Pátria exaurida por uma guerra colonial sem perspectiva de vitória militar, fomentadora de baixos sentimentos raciais, que envilecem a dignidade do homem português, e para a qual o salazarismo não encontra solução. Já nem sequer tem legitimidade para invocar o seu passado .histórico. E, como se fora uma maldição social, os democratas vêem-se dominados por um cepticismo deletério e que parece buscar uma justificação na atomízação política das diversas correntes oposicionistas, já que estas nem sempre souberam pôr os interesses do povo português acima dos interesses pessoais ou de partidos.

A LUAR surgiu desta trágica conjuntura, como uma afirmação vigorosa de insubmissão à impotência revolucionária, manifestada pelas várias organizações políticas da oposição ao regime vigente.

2.º Não se trata de mais um partido político, absorvido por querelas estéreis, atarefado em proselitismos completivos de estados-maiores sem tropas, compensatórios de uma inacção revolucionária.

A LUAR é uma organização revolucionária, com uma nova concepção de luta co m métodos novos e com homens novos.

A LUAR não é uma organização terrorista, mas antes considera o terrorismo como inoperante e susceptível de justificar a repressão já tão brutal da famigerada PIDE.