Mas nós estávamos presentes na luta ardente contra o V Governo Provisório, luta que culminou com um dos maiores comícios do PPD, na Praça de Velasquez, da cidade do Porto, e Francisco Sá Carneiro estava no estrangeiro!
Mas nós estávamos presentes quando foi constituído o VI Governo Provisório, e então defendemos, em negociações difíceis, a representação ministerial
a que nos dava direito a dignidade de segundo partido de Portugal, e Francisco Sá Carneiro estava no estrangeiro!
E no dia 25 de Novembro nós estávamos em Portugal e Francisco Sá Carneiro tinha ido para o estrangeiro!
Gargalhadas.
O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Emídio Guerreiro, peço o favor da sua atenção. Eu cumpro o dever, extremamente antipático, de chamar a atenção a V. Ex.ª de que o seu tempo está quase terminado.
O Orador: - É pena, porque o açúcar está no fundo.
E quando Francisco Sá Carneiro regressou, depois da sua prolongada convalescença, encontrou o seu partido com mais autoridade, com mãos personalidade e com mais simpatia Junto dos verdadeiros democratas que no dia 25 de Novembro defenderam a liberdade em perigo.
Perdoem-me, Srs. Deputados, de me ter desviado do objecto da minha intervenção. E não julgueis que o fiz para exaltar um passado de luta pela dignidade e pela liberdade dos homens.
Não! Foi um grito doloroso de uma indignação insofrida!
Sr. Presidente e Srs. Deputados: O Congresso de Aveiro do Partido Popular Democrático, essa comedia dell'arte, onde nem sequer faltaram os comicigelosi. ...
... tem, no contexto político actual, um significado profundo. A dissidência subsecutiva é apenas a manifestação exterior e superficial de um plano global urdido meticulosamente.
Não é uma simples questão de cúpulas, como dizem os dirigentes do novo PPD.
Era necessário expurgar o PPD dos elementos que, porventura, poderiam opor uma resistência a uma prática política contra-revolucionária, que se vinha manifestando e que procura provocar uma inflexão do surto da revolução portuguesa.
A Sr.ª Fernanda Seita (PS): - Muito bem!
O Orador: - Era necessário «espremer o furúnculo até sair o carnicão» (palavras do Dr. Cunha Leal).
Era preciso criar as condições para forçar uma «autodepuração», para que «o PPD ficasse purificado» (palavras do Dr. Alfredo de Sousa).
Então faz-se aprovar um projecto de estatutos, apresentado pelo filiado n.º 1, que transforma o PPD num partido autocrático. Faz-se voar em estilhaços a democraticidade interna do partido!
Os estatutos aprovados no 1.º Congresso do PPD, que tinham um carácter «eminentemente democrático» (palavras de Sá Carneiro), são atirados pela borda fora.
Não cura fazer aqui a análise dos estatutos do novo PPD. Mas não quero privar esta Assembleia de um bom momento de euforia, citando o n.º 4 do artigo 43.º do projecto em questão:
«Compete ao secretário-geral: delegar, no todo ou em parte, definitiva ou provisoriamente, a sua competência em qualquer dos secretários nacionais.» Ipsis verbis!
Ad usum Delphini!
Está, pois, assegurada a descendência!
Não mais acontecerá ser eleito um secretário-geral
substituto, persona non grata. ...
... de Francisco Sá Carneiro.
Salazar também modificou a lei depois da candidatura do general Delgado à Presidência da República.
Para bom entendedor, meia palavra basta.
A partir daqui é o culto apoteótico da personalidade. No comício de Lisboa, onde estava a fina flor do novo PPD, as flores de Alexandria do Dr. Sá Carneiro, ...
Gargalhadas.
...gritava-se, gritava-se esteticamente: «Nem Soares nem Cunhal, o PPD é Portugal, ...
Gargalhadas.
... nem Seabra nem Guerreiro, o PPD é Sá Carneiro.»
Gargalhadas.
Vox populi, vox Dei!
Gargalhadas.
O PPD é Sá Carneiro!
Gargalhadas.
Aplausos do Sr. Deputado Miguel Macedo, do PPD.
As mãos estão agora livres para desnaturar o belo programa do PPD!