Srs. Deputados: Não julguem que estou a fazer uma comparação entre o Dr. Sá Carneiro e o general De Gaulle...

A ninguém passava pela cabeça medir um «mícron» com «um ano-luz».

Gargalhadas.

O Sr. Américo Viveiros (PPD): - Ainda por cima és nojento.

O Orador: - Pretende-se aproveitar os erros cometidos, inerentes a todas as revoluções, e a agitação dos grupos de ideologia ultra-esquerdista e simplesmente esquerdista para elevar ao paroxismo o estado de espírito das gentes que desejam viver com calma e tranquilidade.

Ao mesmo tempo, os conspiradores contactam pessoas altamente responsáveis e estabelecem ligações entre o estrangeiro e Portugal.

A uma das que foi contactada pediram-lhe, como é óbvio, que «não dissesse nada ao Guerreiro».

Tudo está preparado para evitar a marcha para uma sociedade mais justa e mais humana!

E se as eleições causarem uma decepção aos contra-revolucionários, como aconteceu na Espanha de 1936 depois do triunfo dos republicanos e socialistas, então a «arma da crítica» será substituída pela «crítica das armas».

Uma voz: - Abaixo o neofascismo!

O Orador: - A alta burguesia portuguesa vê no 25 de Novembro o seu «9 thermidor» e já pensa, com frenesi, no «18 brumaire»

Engana-se! O 25 de Novembro foi a consolidação das conquistas autenticamente revolucionárias e a esperança de, neste país, se atingir, pela primeira vez na história da humanidade, uma sociedade socialista pelo caminho da liberdade

Vozes: - Muito bem!

os deuses que me tormentam injustamente. E agora, que o raio crepite, que o fogo da terra se misture às neves do céu e confunda a Natureza, nada me fará humilhar ..»

Assim falava Prometeu.

A tragédia de Ésquilo evoca a dignidade orgulhosa dos homens que conquistaram o primeiro poder sobre a Natureza insondável e que, ao mesmo tempo, tentaram dar resposta ao problema da liberdade na aurora da civilização.

Esta solução passa, hoje, pela construção da sociedade socialista. ..

Enquanto o homem for obrigado a vender a sua força de trabalho para poder subsistir, não é nem será um homem livre ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A verdadeira liberdade só poderá existir numa sociedade sem classes, quando se puser fim à dominação do produto sobre o produtor, quando desaparecer a subjugação do explorador sobre o explorado. Então surgirão condições de vida autenticamente humanas.

Então os homens farão a sua própria história sem sujeições e com a plena consciência da sua condição de homens livres.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Que o povo português abra o coração às ideias generosas desta Revolução.

É com estas palavras que suspendo temporariamente o discurso que ando a escrever há mais de meio século e que está gravado no meu coração com dor, com sofrimentos, com tristezas e com esperanças - é o discurso da liberdade!

(O orador fez a sua intervenção na tribuna.)

Aplausos.

O Sr. Presidente: - Com o prolongamento que foi votado pela Assembleia, teremos que terminar o período de antes da ordem do dia às 17 horas e 20 minutos.

Ora, para pedido de esclarecimento, o Sr. Deputado Carlos Lage. Foi o primeiro inscrito. Estão inscritos o Sr Deputado Carlos Lage, o Sr. Deputado Cunha Leal, o Sr. Deputado Ferreira Júnior. Alguém mais deseja pedir esclarecimentos?

Pausa.

O Sr. Deputado Vital Moreira. Alguém mais deseja pedir?

Portanto, temos estes quatro pedidos de esclarecimento. Se não tivermos tempo de concluir, evidentemente faremos, como já aliás há precedentes, a continuação na próxima sessão. O Sr. Deputado Carlos Lage.

O Sr. Carlos Lage (PS): - Sr. Deputado Emídio Guerreiro, foi com muito respeito e com emoção que ouvi a sua intervenção.