Roseta, que andou pelas universidades, que escreve no Portugal Livre ...

Uma voz: - Andou?!

Burburinho.

O Orador: - ... e que parece estar a par destas questões, é surpreendente como coloca as questões nestes termos, que é o que se chama, é o que se pode chamar a posição reaccionária disfarçada de esperteza saloia.

Aplausos.

Manifestações diversas.

O Sr. Presidente: - Atenção, Srs. Deputados.

A agitação prossegue.

O Sr. Deputado tenha a bondade de continuar.

O Orador: - A sua pergunta é da mais baixa extracção, de maneira que a resposta já está dada.

Manifestações diversas.

O Sr. Pedro Roseta (PPD): - De demagogia já estou farto.

O Orador: - Mas quer que responda?

O Sr. Presidente: - Faz favor de ...

O Orador: - Sr. Presidente, dá-me tempo que responda ao Sr. Deputado Pedro Roseta, que está ancioso por conhecer a resposta?

Burburinho.

O Sr. Presidente: - Pois, então, pode responder, mas faça o favor de ser rápido.

O Orador: - Ora bem, Sr. Pedro Roseta, repare bem: aquilo que acontece nas sociedades do Leste Europeu, onde existem formas de colectivização dos meios de produção e a gestão desses meios de produção é feita pelo Estado, e onde as liberdades foram suprimidas com intuitos provisórios, mas onde as pessoas se esqueceram até, já, de que existem as liberdades, esse facto não pode ser invocado, de forma nenhuma, para dizer que o socialismo que nós preconizamos não tem imagem no exterior porque nós não preconizamos esse socialismo, parque nós nos demarcamos, fazemos a crítica desse socialismo em termos correctos e em termos de perspectivação histórica desse mesmo socialismo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Compreende? E dizerem que isso acontecia era o mesmo que considerar que havia uma fatalidade histórica, ou que existia, digamos assim.

O Sr. Pedro Roseta (PPD): - Mas não são vocês.

Manifestações diversas.

O Orador. - Na sua linguagem, uma providência que estaria antes da história e que levaria os homens através da sua actuação cega para aquilo que eles não pretendiam. Quer dizer que nós estávamos no fim do caminho, previamente determinado por um decreto da Providência que havíamos de criar num tipo de socialismo burocrático do Leste europeu, não querendo ficar pela simples social-democracia, que é efectivamente a correcção do sistema capitalista e não ainda o socialismo.

Portanto, dizer-nos que nós não podemos chegar a um socialismo democrático com a socialização dos grandes meios de produção mantendo as liberdades e mantendo os interesses dos pequenos e dos médios camponeses e trabalhadores e proprietários deste país é a mesma coisa que você estar a querer colocar disjunções históricas que só existem no seu espírito, com já uma tomada de partida anterior, que consiste em querer liquidar a hipótese de que se faça um socialismo democrático.

O Sr. Pedro Roseta (PPD): - Têm-se visto!

O Orador: - É isso o que está por de trás da sua pergunta, é, a da impossibilidade através da prática dos homens, aliás acho que você está de acordo em que «os homens fazem a história», suponho assim, simplesmente a maneira de você fazer a história é diferente da nossa.

Mas está de acordo com isso, possivelmente, os homens e as classes. Portanto, você com certeza admitirá que os trabalhadores portugueses, o povo português e os partidos que o representam, se quiserem criar em Portugal uma sociedade justa, socialista e democrática serão capazes de o fazer. Se você não aceitar isso, então é porque você aceita que nós cá, os Portugueses, somos uma espécie de índios da Europa.

Agitação na Sala.

O Sr. Presidente: - Tenha a bondade, Sr. Deputado.

Agitação na Sala.

Atenção, Srs. Deputados.

O Orador: - O PS respeitará os resultados das eleições ou não? É óbvio que respeita.

Tem sido sempre e é a estratégia do Partido Socialista defender o sistema eleitoral e o sistema democrático como forma de acesso aos poderes políticos através da concorrência, através da preservação das liberdades. Com certeza esta é a nossa ética e é isso que nós defendemos. Agora, é evidente, aquilo que vocês engolem muito mal é que o Partido Socialista, caso não consiga ganhar as eleições, embora nós estejamos plenamente convencidos, e temos esperança certa de que as ganharemos, esta não é uma ilusão que nós queremos dar a nós mesmos, é o conhecimento do povo português, sabemos que no último momento de escolher ele saberá escolher