ção em que caíra um povo. Um povo que não fala tem medo. Um povo que tem medo não fala. Azevedo Gomes encontrara o gesto genial para exprimir, pelo silêncio, a mensagem de um povo que perdera o direito (expressão de Pascoais) de pensar em voz alta.

Aplausos.

Eu não digo aqui tudo o que penso e quero. Todo o funcionário público, todo o professor em particular, tem ainda hoje um lastro fascista de inibições de que o 25 de Abril o não libertou, por enquanto.

Observei, atento e comovido, o rosto do Prof. Mário Silva que me fez esta descrição: por detrás das lentes espessas dos óculos, os olhos estavam húmidos. Mas, nessa soalhenta manhã de Julho, eu via - e revejo agora - o sorriso confiante e saudável de Bento Caraça, sorriso deitado nos ventos da história de que começa a erguer-se, seja por que via for, um rosto novo para o povo português e que será, se os cidadãos portugueses quiserem assumir a responsabilidade que o texto da Constituição já propõe, um rosto socialista.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Chamo a atenção para uma declaração de Pierre Mendès France no seu último livro, onde diz que a sinceridade é o segredo do político. Se os Deputados que elaboraram esta Constituição forem sinceros, e se os portugueses que a vão aplicar são sinceros, eu tenho a esperança de que o rosto ri

Aplausos.

A longo prazo, o processo histórico em que todos estamos envolvidos é irreversível e visa o bem comum. Entre nós - e isto foi sublinhado durante o Concílio Ecuménico por um cardeal nórdico, salvo erro - os cristãos parecem empenhados em que a justiça social se fique a dever a Marx. Descrente desde a adolescência, começo a acreditar que Deus, no século XX, está a escrever direito pelas linhas da esquerda.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Depois de cinquenta anos de opressão e repressão, a liberdade tem um preço. Entre os vários este: o não sabermos usar dela em favor dos outros. Por exemplo: da criança portuguesa. O Deputado Gonçalves Sapinho referiu, há dias, que há milhares de alunos sem aulas e milhares de professores sem colocação. Mau é que isso esteja a acontecer. Mas vamos supor que no próximo ano lectivo esta mazela burocrática fica sanada. Os educandos encontram os educadores em disponibilidade. O nosso sistema educativo entrou nas calhas da solução justa, mesmo ao nível da escolaridade platonicamente obrigatória? É óbvio que não.

Os problemas centrais da degradação do ensino permanecem. São problemas, em grande medida, de raiz sócio-económica. Ao cabo e ao resto problemas que têm de encontrar primeiro as soluções políticas adequadas ao mundo dos adultos.

Eu não sei de quanto tempo disponho para mostrar exactamente, ou demonstrar esta tese: que a escola não resolve os fracassos escolares. Os fracassos escolares são resolvidos pelos adultos, pela sociedade em que a escola se insere.

O Sr. Presidente dirá quantos minutos me concede para eu fazer uma súmula que esclareça a Assembleia sobre um ponto que me parece essencial.