Em questões de social-democracia, o nosso inefável Dr. Sá Carneiro possui uma sensibilidade que, se não fosse o período de libertação que atravessamos, diríamos ser, pelo menos, quase feminina. Adiante.
Gargalhadas.
Mais do que falta de vergonha, há aqui claramente falta de pudor. Trata-se não já de emulação, mas sim de algo pior que emulação, e que é a raiva dos impotentes. Compreende-se que assim seja.
Em Portugal, as mistificações e as mentiras acabaram.
Vozes de protesto.
Acabaram, sim senhor, Srs. Deputados. E com ela se acabou também o sonho do Dr. Sá Carneiro que podemos definir em duas palavras. A coberto do verniz da social-democracia, impôs aos trabalhadores portugueses uma política reaccionária.
Vozes: - Muito bem!
Aplausos.
Uma voz: - Reaccionário és tu.
O Orador:- Do seu triunfalismo eleitoralista regressamos à conhecida táctica da esmola política. Tal como em 1969 mendigou junto de Marcelo Caetano a formação de uma ala liberal, Sá Carneiro mendiga hoje - mudam-se os tempos, mudam-se as vontades - às sociais democracias europeias a formação de uma ala reaccionária.
Seria como se o Sr. Franz Johanes Strauss pretendesse ser reconhecido pela internacional Socialista para, a coberto da bandeira do socialismo, fazer a sua política reaccionária na sua terra da Baviera.
Entretanto, vai cumprimentando os nossos convidados, fazendo pela vida, sobrevivendo, enfim.
Importa contudo declarar que, recusando-se assumir o seu papel de conservador, Francisco Sá Carneiro caminha a passos largos para a sua subconsciente posição de reaccionário e de autocrata.
Vozes: - Muito bem!
Aplausos.
O Sr. Barbosa Gonçalves (PPD): - Com esse risinho já não me enganas.
O Orador: - É de raiva, da incapacidade, da impotência e da pusilanimidade dos Eduardos Freis e dos Sá Carneiros que nascem os generais Pinochets.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - O povo português vê o Dr. Sá Carneiro na sua verdadeira face e, na rua como nas eleições, dirá o que pensa do político de salão, que a ambição e a vaidade transformaram num caudilho ultramontano.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: No grotesco como nos ensinou Michel de Chelderode, reside muitas vezes a tragédia.
E ao ver os bobos da corte carneirista invocando e pretendendo fazer regressar os princípios das sombras, recordamos a cena final do Escorial, de Michel de Chelderode, quando um dos bobos disformes, moral e fisicamente - que também pintou - ensina o último dos segredos da arte dos bobos, que é a crueldade.
Tenho dito.
(O orador não reviu.)
Vozes: - Muito bem!
Aplausos.
O Sr. Presidente: - Algum pedido de esclarecimento?
Sr. Deputado - José Ferreira Júnior, tenha a bondade.
O Sr. Ferreira Júnior (PPD):- Desejava perguntar ao Deputado José Luís Nunes, que acabou, quanto a mim, de ter a intervenção de mais baixo nível que até hoje teve nesta Assembleia ...
Burburinho na Sala.
Aplausos.
... o nível de ataque pessoal que nunca imaginei que pudesse estar de acordo com as capacidades intelectuais que tem demonstrado; depois desta intervenção, realmente infeliz, o que me parece que despromove quem a fez e é capaz de promover aquele que pretendeu atingir ...
Burburinho na Sala .
... eu queria perguntar-lhe duas ou três coisas.
Uma voz: - Pobre reaccionário.
O Oradora - Em primeiro lugar, se por acaso não foram os mesmos mestres que teve o Dr. Mário Soares, na mesma Faculdade, que teve o Dr. Sá Carneiro. Falou que tinha andado pelas embaixadas a dizer que iria haver combates nas ruas do Porto. Isso é mentira!
Uma voz: - É verdade!
Burburinho na Sala.
O Orador. - Vocês lá o sabem. Em segundo lugar ...
Grande agitação.
O Sr. Presidente: - Peço a atenção da Assembleia.
Srs. Deputados tenham calma, por favor ... Por favor! Por favor!
Faça o favor de continuar, Sr. Deputado.