qual das mentiras proferidas alguma coisa sempre resta com aparência de verdade, sinto ser meu dever dar algumas explicações a esta Câmara.
O Sr. Manuel Gusmão (PCP): - Não se engasgue.
Uma voz: - Cala-te, pá!
Burburinho.
O Orador:- Parafraseando um conhecido político nacional, que dizia que ser burguês é ter tido uma adolescência confortável e estudos pagos, então ele era burguês, nesse sentido.
Ora, eu pessoalmente nem isso posso dizer, e não o posso dizer porque nasci filho de família pobre e sempre paguei os meus estudos com o meu trabalho incansável.
Uma voz:- Olha o Salazar ...
Burburinho.
O Orador:- As insinuações continuaram ontem, eu devo afirmar que ser consultor económico de qualquer empresa não desonra ninguém: muitos dos militares progressistas, hoje até refugiados noutros sítios, foram consultores de muitas empresas. Não é desonroso, até quando se está longe de ganhar o que certos marxistas ganhavam ontem e ganham hoje.
Além disso, devo confessar que não sou sócio de casas de câmbio, nem grande empreiteiro, como certos queridos do PCP.
O Sr. Pedro Roseta (PPD): - Boa!
O Orador:- Trabalhador, como outro qualquer, na Universidade onde estive, realizei o meu trabalho e ganhei lealmente os títulos académicos que me atribuíram. Nem grande capitalista, nem médio e nem pequeno sou; não sou sócio de nada, muito menos grande accionista, tão pouco médio e nem sequer, talvez, pequeno. Os títulos de que disponho ...
Burburinho.
... estão depositados num banco, onde certamente comissões do PC para inquérito da vida alheia já meteram o nariz...
O Sr. Afonso do Carmo (PS):- Isto é outra intervenção.
O Orador:-... mas devem ter verificado que possuo apenas cerca de duzentas acções, das quais o maior lote é constituído por acções da Companhia Portuguesa de Electricidade que toda a gente sabe não serem acções especulativas.
Manifestações.
Para maior pormenor...
Vozes imperceptíveis.
Já estava, Sr. Deputado. O senhor é que é um ignorante nesta matéria.
Para maior pormenor, devo dizer-lhe que algumas delas estão caucionando dívidas, que também podem comprovar que pago pontualmente, dívidas contraídas para comprar um andar para habitação própria. Maço-os, Srs. Deputados, com estes pormenores, para que não restem dúvidas sobre as calúnias proferidas e para que fique bem saliente a baixeza das acusações.
O Sr. Pedro Roseta (PPD): - Muito bem!
Burburinho.
O Orador: - Não procedo à recíproca, embora houvesse eventual matéria. Para mim, dou o assunto por arrumado, votando o miserável caluniador ao mais total desprezo.
O Sr. Pedro Roseta (PPD): - Muito bem!
O Orador: - E devo dizer que considero que insultos partindo daquela boca, afinal, não são mais do que elogios.
O Sr. Pedro Roseta (PPD): - Muito bem!
O Orador: - Se um dia o PCP tomasse conta do Poder em Portugal, à sua moda, então veríamos certamente aquele Sr. Deputado exercer a sua verdadeira vocação no cargo de grande inquisidor...
Vozes de protesto.
... e de fornecedor de homens para um novo «Arquipélago de Gulag».
Vozes de protesto.
Do seu procedimento devemos retirar a lição do que nos esperaria. É esta a resposta que merece e, francamente, já lhe consagrei demasiado tempo!
Vozes: - Muito bem!
Manifestações.
O Orador: - No que diz respeito ...
Burburinho.
... no que diz respeito...
Grande agitação no hemiciclo.
Vozes imperceptíveis.
Manifestações.
Uma voz: - Já lá vai! Não te impacientes, homem!
O Sr. Presidente:- O Sr. Deputado já não dispõe de muito tempo, mesmo com algumas...
O Orador: - Sr. Presidente ...
Uma voz:- O Sr. Deputado ainda não respondeu às perguntas.
Burburinho.