cometidos pela revolução, explorando a irresponsabilidade demagógica do PCP e do MDP/CDE, que procuram canalizar ...

Uma voz: - Estão a colaborar com a reacção!

Aplausos e apupos.

O Sr. Presidente: - Peço o favor de deixarem continuar o orador.

O Orador: - ... em proveito próprio, em proveito da contra-revolução, esse descontentamento popular.

Grande burburinho na Sala.

O Sr. Presidente:- Peço o favor de não interromperem o orador. Tem a palavra.

Gera-se grande burburinho.

Neste momento os Srs. Deputados do PCP e do MDP/CDE começam a abandonar a Sala, passando em frente da tribuna dos oradores, onde proferem diversas palavras difíceis de registar.

O Sr. Presidente: - O orador tem a palavra.

Vozes: - Abaixo a reacção; abaixo a reacção.

O Sr. Presidente: - Peço a atenção. Não podem interpelar o orador desta maneira.

A agitação mantém-se durante algum tempo.

Vozes: - Fascista! Demagogo! Vai para o teu lugar ...

O Sr. Presidente: - Peço o favor de manterem a ordem.

Uma voz: - Abaixo a reacção!

O Sr. Presidente: - Os Srs. Deputados que quiserem sair façam favor de sair, mas não podem estar a interromper.

Uma voz: - Rua!

Ouvem-se palavras impróprias de serem registadas.

O Sr. Presidente: - Se quiserem sair...

As manifestações sucedem-se.

Uma voz: - É preciso é ter calma!

O Sr. Presidente:- Assim teremos que suspender a sessão.

Em volta do orador, que proferia a sua intervenção na tribuna, gera-se grande confusão entre Srs. Deputados do PCP, MDP/CDE e PS.

O Sr. Presidente: - Façam favor de se retirar. Os Srs. Deputados não podem interromper.

O Orador: - Não sabem ouvir.

Continuam os conflitos e manifestações diversas.

O Sr. Presidente: - Não podem interromper. Se quiserem sair, façam o favor.

Uma voz: - Tenham calma!

O Sr. Presidente: - Vamos suspender a sessão?

Os Srs. Deputados do PCP e do MDP/CDE abandonam a Sala.

Não podem interromper. Continua no uso da palavra o Deputado Lopes Cardoso.

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputas: Há verdades que são duras de ouvir. Mas chegou o momento de falar verdade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A onda de violência a que se assiste é o resultado da crise política que o País atravessa, ela própria reflexo da desconfiança que se instalou entre os Portugueses. Responsabilizar exclusivamente as forças reaccionárias por essas violências é ignorar as suas causas mais profundas, continuar respondendo aos anseios ou interrogações, às reivindicações das massas populares com um verbalismo demagógico.

Para a compreender, para lhe pôr cobro, é necessário ter a coragem, de olhar de frente a realidade nacional.

E a realidade, Sr. Presidente, Srs. Deputados, é que o povo português, as massas trabalhadoras, têm pouco a pouco perdido a confiança na Revolução; a realidade é que um ano após o 25 de Abril o cepticismo vai substituindo a esperança, a descrença apodera-se das massas trabalhadoras, o desespero substitui o élan colectivo dos primeiros dias da Revolução, abrindo-se as portas a todas as aventuras contra-revolucionárias.

A realidade é - que se a quase totalidade do povo português esteve com a Revolução no dia 25 de Abril, isso hoje já não acontece, como reconhece o próprio Presidente da República.

E, a este propósito, permitam-me, Srs. Deputados, que recorde que quando eu próprio denunciei publicamente esse facto, afirmando que se estava a cavar o divórcio entre o povo e o MFA, logo sobre mim se assestaram as baterias de certa imprensa e houve mesmo um Sr. Deputado que neste hemiciclo procurou aproveitar-se de tais afirmações para pôr em causa o apoio do Partido Socialista ao MFA.

Será que o mesmo Sr. Deputado considera que o Presidente da República retirou o seu apoio ao MFA?

Aplausos.

Inconvenientes de se ser por vezes comais papista que o papa».

O povo português lutou cinquenta anos para que a sua voz fosse ouvida e a sua vontade respeitada.

E no dia 25 de Abril, quando essa luta culminou com o derrubamento do regime fascista pelo MFA, acreditou que a sua voz ia ser ouvida, a sua vontade respeitada. Acreditou que com o 25 de Abril se abriam as portas à construção de um país novo, que se rasgavam os caminhos de uma sociedade mais justa, se iniciava a marcha firme e decidida para o