uma solução meramente intervalar, entre dois passos de uma Revolução que procura definir-se em termos de objectivos e de parâmetros ideológicos e de encontrar o seu rosto humano.

É, pois, um Governo provisoriamente provisório ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... que reputamos destinado desde já ao fracasso a que a sua evidente falta de representatividade política inexoravelmente o condena.

Não podemos deixar de formular claros votos de que a sua vida seja curta.

Não para que a ele se siga a angústia e o vazio de uma nova crise.

Mas para que, após ele, venha o autêntico governo democrático e representativo da vontade popular, que o País exige pela voz do seu povo.

O orador não reviu, tendo efectuado a sua intervenção na tribuna.

Aplausos.

O Sr. Presidente:- Tem a palavra o Sr. Deputado Sottomayor Cardia.

O Sr. Sottomayor Cardia (PS): -- Sr. Presidente, Srs. Deputados: Destacados revolucionários do MFA entregaram ontem ao Sr. Presidente da República uma representação de alto significado. Os signatários contam-se entre os mais corajosos e representativos do 25 de Abril.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Os pontos de vista expressos traduzem, numa posição de esquerda, as preocupações e os anseios da esmagadora maioria do povo português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Torna-se, assim, extremamente grave a resposta que esses homens prontamente receberam do Directório do Conselho da Revolução.

Multiplicam-se, desde há meses, públicas tomadas de posição de dirigentes militares que gravemente atentam contra o Programa e outros princípios fundamentais do MFA. Nunca essas declarações e actuações foram publicamente condenadas por quaisquer instâncias do MFA.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A sentença condenatória proferida pelo triunvirato introduz assinalável inovação. A fidelidade ao Programa do MFA e seus desenvolvimentos

e a expressão de pontos de vista, que são os do País, vêem-se apodados de divisionismo, atentado à disciplina e ética militar e grave perturbação do processo revolucionário. Chega, inclusive, a afirmar-se que o documento cria uma situação que «aproveita a escalada reaccionária».

Divisionistas, os que querem manter os compromissos que assumiram perante o País? E por que não antes os que querem apropriar-se da Revolução como património privado e oportunisticamente se aproveitam da incerteza institucional para tudo subordinar à sectária vontade de poder?

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Disciplina militar? Quem a subverte desde há meses e meses? Ética militar? Quem mais frontalmente a viola do que aqueles que do poder militar abusam para impor uma política impopular?

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Perturbação do processo revolucionário e criação de um clima favorável à contra-revolução? Isso, na verdade, se tem feito bastamente e se recompensa pela continuidade governativa.

Aplausos.

Poder-se-ia perguntar como concilia o Sr. Presidente da República o seu discurso na Assembleia do MFA e comunicado do Directório do Conselho da Revolução?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas essa questão tem já um interesse relativo. O que importa é que, em nome do MFA, se pretende calar a voz dos revolucionários do 25 de Abril que continuam coerentes com a Revolução que libertou o País.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos

O Orador:- Sr. Presidente, Srs. Deputados: O MFA é um poder do Estado. Mais precisamente: o MFA é hoje, na prática, todo o poder. Os seus órgãos superiores estão, contudo, a transformá-lo em movimento monolítico dirigido segundo projectos políticos minoritários.

A liberdade de expressão do pensamento desapareceu no seio do MFA. O Ministro da Comunicação Social quer suprimi-la também na sociedade civil. Um Governo ultraminoritário, mas composto quase integralmente de pessoas politicamente anónimas, com todos os inconvenientes do anonimato, acaba de tomar posse. Outro menos mau não conseguiu constituir o general Vasco Gonçalves.