O Sr. Afonso do Carmo: - E de nunca mais cá voltarem!

O Sr. Presidente: - Peço o favor aos Srs. Deputados de reconhecerem o direito que os Srs. Deputados do MDP/CDE têm de abandonar a Sala.

O burburinho continua.

O Sr. Presidente: - Tem V.Ex.ª a palavra, Sr. Deputado Lopes Cardoso.

Aplausos quando o orador sobe à tribuna.

O Sr. Lopes Cardoso (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O agudizar da crise político-militar nas últimas semanas terá tido, de imediato, ao menos uma virtude: conduzir à clarificação das diferentes posições políticas, obrigar cada um a assumir as suas responsabilidades, nesta hora que pode ser decisiva para o futuro do nosso país.

O Partido Socialista fê-lo já, assumiu já as suas responsabilidades, mantendo-se fiel ao seu programa, mantendo-se fiel ao combate que vem travando pelo socialismo e pela liberdade, mantendo-se fiel ao Programa do MFA, ao Pacto e ao Plano de Acção Política - Programa, Pacto e Plano que outros ignoram, adulteram e traem.

Vozes: - Muito bem!

dos que permaneceram fiéis ao 25 de Abril, ao Programa do MFA - a construção do socialismo no respeito pelas liberdades fundamentais.

Do outro lado, a via autoritária, ditatorial, que procura, em nome do socialismo, abrir o caminho ao capitalismo de Estado, ao poder do partido único e que conduzirá inevitavelmente, no contexto geopolítico em que nos inserimos, à ditadura de um qualquer Pinochet que já neste momento espreita a oportunidade para se impor.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - De um lado, o poder democrático dos trabalhadores, o poder como livre expressão da vontade popular. Do outro, o poder de um aparelho de Estado em que as massas trabalhadoras são reduzidas à situação de simples instrumentos ao serviço de uma minoria de burocratas.

De um lado, um programa que tem a legitimá-lo a vontade livremente expressa da grande maioria do povo português, do outro; uma concepção da sociedade que apenas a força das armas poderá fazer triunfar. Apenas a força das armas, porque aqueles mesmos que em nome da Revolução e contra a vontade das massas trabalhadoras procuram impor a sua própria concepção de revolução são obrigados a reconhecer o isolamento em que se encontram.

Isolamento de uma vanguarda que avança a passo acelerado no caminho da Revolução?

Não, Sr. Presidente, não Srs. Deputados, basta de mistificações! Isolamento de uma minoria que teima em trilhar no caminho errado, que teima em opor-se à vontade das massas populares.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Porque, Sr. Presidente, Srs. Deputados, muito menos que o ritmo da Revolução, o que está em causa são os objectivos da Revolução. Muito menos que o ritmo da Revolução, o que está em causa são os rumos que se pretendem impor à Revolução. O que está em causa são as distorções permanentes que em nome do socialismo se têm imposto ao projecto socialista do MFA. A um tal ponto que são hoje os próprios revolucionários do 25 de Abril que vêm a público denunciá-lo.

Uma voz: - Apoiado!

Aplausos.