O Orador: - Incentivar, apoiar e estimular as organizações populares de base não é avançar com demasiada rapidez. Incentivar, apoiar, estimular as comissões de trabalhadores, as comissões de moradores, a participação dos cidadãos na vida das comunidades locais, não é imprimir um ritmo demasiado avançado ao processo revolucionário. É procurar lançar as bases de uma nova estrutura política que assegure a democracia e a livre participação das massas populares na vida da colectividade. Mas procurar criar, em nome de um pseudopoder popular comissões de trabalhadores, comissões de moradores, órgãos de base não representativos, manipulados pelo aparelho burocrático de um partido único, submetidos a homologação discricionária de um qualquer poder central, é negar a própria democracia de base, é comprometer a Revolução, é comprometer o socialismo.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Tentar submeter os órgãos de informação, primeiro ao progressivo contrôle de um só partido, agora a uma nova censura, será avançar demasiado rapidamente no caminho da Revolução?

Pôr em causa a legitimidade da Assembleia Constituinte, único órgão no nosso país que é expressão da vontade popular, será apenas avançar demasiado rapidamente no caminho da Revolução?

Procurar impor aos trabalhadores uma central sindical que os trabalhadores não reconhecem, procurar impor-lhes um congresso de sindicatos, melhores direcções sindicais, cuja representatividade contestam, será apenas avançar a ritmo acelerado no caminho da Revolução?

Então, Sr. Presidente, Srs. Deputados, há que perguntar em que direcção se pretende avançar a Revolução?

Em direcção a uma democracia dita popular?

Em direcção ao regime de partido único?

Em direcção aos sindicatos instrumentos do aparelho de Estado?

Se é esse o rumo, pouco importa o ritmo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A passos largos ou a passos curtos, os socialistas, as classes trabalhadoras, o povo português - disseram-no já -, recusam-se a avançar nessa

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Chegou a hora de optar, de optar clara, firme, decididamente - dessa opção depende o futuro do nosso país.

As forças reaccionárias e contra-revolucionárias, que acobertadas na sombra aguardavam uma oportunidade para se manifestar, começam a surgir à luz

do dia.

Hoje mais do que nunca se queremos vencer a crise, se queremos salvar a Revolução, se queremos caminhar para um verdadeiro governo de unidade nacional que mereça a confiança das classes trabalhadoras e as possa mobilizar, importa que cada um assuma as suas responsabilidades.

As hesitações, os subterfúgios, os compromissos de palácio, as manobras de gabinete, apenas fazem o jogo da contra-revolução.

Uma voz: - Muito bem!

Aplausos.

Mas não entendeu, com certeza, que o Presidente da República, que fora o primeiro dos membros do Conselho da Revolução a condenar os desvios do processo revolucionário, a sublinhar a gravidade da crise económica e social e da situação em Angola, a denunciar o divórcio entre o povo e o MFA, não tenha sabido ou não tenha querido pôr os seus actos de acordo com as suas palavras.

Aplausos.

Directório, reafirme