Como pode este Governo ser forte se, como aqui já foi afirmado, é um Governo assente em coisa nenhuma? Como poderá ser-lhe dada autoridade, se logo desde a partida é um nado-morto?

Para além disso, se dúvidas restavam ainda a alguém, deu-nos bem conta do seu apartidarismo ao apoiar a iniciativa da Intersindical, nos seguintes termos:

Unidos, coesos, conscientes dos seus deveres para com os seus compatriotas, essa paralisação não é uma acção de carácter laboral, mas é uma acção patriótica destinada a alertar a consciência de todos os Portugueses para a defesa das conquistas obtidas depois do 25 de Abril.

Eu repito, entre outras, algumas dessas conquistas obtidas: as liberdades e garantias individuais; a constituição livre de partidos políticos; os direitos de reunião e de associação; as novas relações de trabalho; a unidade sindical; as nacionalizações; o contrôle da produção pelos trabalhadores; a reforma agrária. Não merece a pena lutar-se por isso? Os trabalhadores dão um alto exemplo de consciência cívica e de unidade mostrando ao seu povo o caminho da luta, firme e tenaz, quotidiana pela liberdade e pela democracia.

Postas as coisas assim, parecia que não só Lisboa, mas até o resto do País iriam paralisar o seu trabalho durante aquela meia hora; contudo, tal não aconteceu, e porquê? A resposta é muito fácil; é que os trabalhadores desejam a Revolução, mas não estão com a direcção imprimada a esta Revolução, porque a sua grande maioria nem sequer considera como suas as conquistas enumeradas pelo Sr. Primeiro-Ministro; senão, vejamos:

Por que razão não serviu ainda a nacionalização da banca para dotar as cooperativas de capacidade financeira para poderem financiarem os seus sócios, incentivando, assim, a associação cooperativa? Aliás, este seria o primeiro passo a dar para tornar possível a reforma agrária no Centro e Norte do País, já que, naquelas regiões - que são a maior parle do País ela não é possível sem criar nas suas gentes a necessidade do espírito associativo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por tudo isto, foi um fracasso o pedido de paralisação feita, mas, pelo menos, pode ter tido uma virtude apenas - a de demonstrar ao Sr. Presidente da República que o seu Primeiro-Ministro já nem sequer tem o apoio desta cintura constituída pelos 30 km à volta de Lisboa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Finalmente, resta congratularmo-nos pela esperança de que o discurso do Sr. Presidente da República ontem proferido na tomada de posse dos Secretários de Estado deixa entrever que os dias do Governo e, portanto, do Sr. Primeiro-Ministro estão já contados.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Sr. Presidente: - Segue-se o Deputado Luís Roseira. Dispõe de treze minutos para a sua intervenção.

Pausa.

O Sr. Luís Roseira (PS):- Sr. Presidente e Srs. Deputados: Não posso deixar de começar as minhas palavras sobre a minha terra, sobre o Douro, sobre aquilo que era o «País vinhateiro», que nos legaram, sem me dirigir a V. Ex.ª, Sr. Presidente. Vão longos os anos já em que homens da oposição, a que sempre pertenci, se dirigiam a V. Ex.ª para receber o conselho do homem, do economista, do antifascista, que sempre recebia de braços abertos quem à sua porta batia para receber o seu conselho. V. Ex.ª há-de julgar, e já mo disse mais do que uma vez, que pouca utilidade podia ter colhido desse conselho. Mas queria dizer aqui publicamente que foi o apoio que V. Ex.ª deu que me deu forças e ânimo para de há quinze anos a esta parte vir trabalhando