O Sr. José Luís Nunes (PS): - Sobre este assunto, e em nome do Grupo Parlamentar do PS, nós estamos habilitados às catilinárias irresponsáveis do Sr. Américo Duarte.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em primeiro lugar, desejamos dizer que não ofende quem quer. E, portanto, o PS age em relação ao Sr. Deputado Américo Duarte como agiria a qualquer irresponsável ou a qualquer inimputável.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A actuação do nosso camarada Mário Soares é suficientemente conhecida para que não possa ser sujada ou tocada sequer por salpicos de lama por uma pessoa que julga que o Palácio de S. Bento é o Cais do Sodré.

Aplausos.

Uma voz: - Boa!

Vozes: - Rua! Rua!

Aplausos.

Burburinho.

O Sr. Presidente: - Um momento. Peço a atenção!

Vozes: - Fora! Rua!

O Sr. Américo Duarte (UDP): - Os ataques da burguesia são louvores para mim!

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Américo Duarte...

O Sr. Américo Duarte (UDP): - Tenho a dizer que os ataques são louvores!

Burburinho.

O Sr. Presidente: - Peço a atenção da Assembleia.

Burburinho.

Peço a atenção!

O Sr. Américo Duarte (UDP): - A demagogia é muito grande aqui dentro desta Assembleia!

O Sr. Presidente: - Peço a atenção!

O Sr. Américo Duarte (UDP): - A classe operária saberá...

O Sr. Presidente: - Peço a atenção!

O Sr. Américo Duarte (UDP): - A classe operária saberá dar uma resposta a isso tudo!

Apupos e assobios.

Vozes: - Vai-te embora!

Outras vozes: - Rua!

Burburinho.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Américo Duarte pediu a palavra, pois foi posto especialmente em causa, e eu tenho que lhe dar a palavra.

Tem a palavra o Sr. Deputado Américo Duarte.

O Sr. Américo Duarte (UDP): - Queria dizer que se as palavras demagógicas ditas nesta Assembleia fossem notas de conto de réis o País não estava tanto na miséria como está. Tínhamos que tirar o alvói.

Burburinho.

O Sr. Presidente: - Peço a atenção! Segue-se no uso da palavra o Sr. Deputado Dias Marques que dispõe, aproximadamente, de cinco a, sete minutos.

O Sr. Dias Marques (PPD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não será apenas porque sou de Aveiro e aqui mergulham as raízes da minha existência que hoje tomo a palavra nesta Constituinte. Razões mais fortes e substancialmente definidas impõem a invocação deste distrito, numa hora tão difícil e grave que permite o recuo no tempo, próximo que seja, e buscar na história, ainda que num bosquejo informal, o comportamento desta gente tão caristicamente Portuguesa.

De vara na mão, atolado na ria, na luta diária com o mar encapelado, de pá erguida esgueirando-se por entre as salinas ou de enxada nos braços pelos campos que cultiva, sabendo o custo da vida, nunca este povo se curvou às exigências ou imposições totalitárias, a minorias de domínio, ou absolutismos de força.

E muitas foram as vezes que, trocadas as alfaias de trabalho pelas armas, saltou ao terreiro sempre em defesa da liberdade que para ele é elemento imprescindível no ar que respira.

Fê-lo em 16 de Maio de 1828 para nos fixarmos mais perto, na sequência de uma situação que alastrava efusiante, desde 1820, por todas as terras deste distrito, clamando liberdade de que nunca mais se demitiu de fazer.

Será digno referir o valor e a intransigência daquela irrequieta juventude que encimando a história política de Aveiro, da época liberal, sensibiliza a história portuguesa, ilustrando-a com o sangue dos que morreram gritando ou cantando, abraçados ao povo que também eles eram, os hinos que a ânsia de liberdade lhes ensinara.

Lembro António Resende, Oliveira Queirós, Gravito, Correia Teles, Mendes Leite, para, entre tantos outros, poder quedar-me em reverência e respeito, na memória de José Estêvão.

Mas deixemos - Srs. Deputados - que o longe fique no coração e mente do povo de Aveiro, pelo menos, nesse, que o tempo não consome, nem enegrece, por muito que custe à fúria devastadora do momento presente, mesmo que injuriado e insultado com ignomínia de fascista e contra-revolucionário, desde que tais insultos continuem a ter a mesma progenitura que os pariu ... até agora.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Situemo-nos mais próximo, lembrando sempre a verticalidade deste povo, oferecendo as condições mais amplas de receptividade, sem medo nem