O Orador:- As posições dos partidos já foram diversas, o que não deixa de ser lógico, pois diversos são os seus interesses de classe.

É esta a fase em que começam a surgir as grandes posições teóricas, em que surgem os «espectros totalitaristas», em que alguns partidos se reclamam os primeiros defensores dos interesses dos trabalhadores, os arautos das liberdades, da democracia, do socialismo personalista, de rosto humano, em liberdade, etc., etc., etc.

Vozes: - Etc., etc.. etc. ...

O Orador: - Todos se reclamam do mesmo conceito ao mesmo tempo que lhe conferem conteúdo diverso, o que continua a ser lógico, dados os interesses de classe que defendem.

Nesta fase, lança-se a confusão na população trabalhadora. Adulteram-se os conceitos. Fazem-se prodígios de mistificação política.

Uma voz: - Não sabem.

Outra voz: - Quem?

O Orador: - A burguesia.

Aquilo que para alguns trabalhadores foi claro para alguns partidos já não o era.

Se a liberdade para os trabalhadores é uma coisa, já não é a mesma coisa para alguns partidos políticos.

A democracia para os trabalhadores é para alguns partidos totalitarismo.

É neste período que surgem os mixordeiros políticos a dizerem-se os arautos da «liberdade», os únicos detentores da «liberdade».

Mas que liberdade?

Manifestações diversas.

É evidente que a liberdade em abstracto, a liberdade pela liberdade, liberdade nas palavras e nos gestos teatrais; enfim, a liberdade mistificadora.

Qual o fim desta campanha?

Como assistimos, visava criar clientelas políticas no seio dos trabalhadores, criar o espaço para a infiltração dos seus inimigos. É à sombra desta «liberdade» que a burguesia comprará os seus mercenários que constituirão os sindicatos «livres», amarelos, as tropas de choque do patronato, os furadores das decisões e da vontade dos trabalhadores.

De natureza bem diversa é a outra liberdade, que os mixordeiros políticos atacam: a liberdade da classe dos explorados, a liberdade que permite aos trabalhadores o confronto das diversas posições, que lhes permite decidir em defesa dos seus interesses face aos interesses dos exploradores.

A primeira liberdade é a liberdade de os inimigos dos trabalhadores perpetuarem a exploração do homem pela homem.

A segunda traduz a liberdade de os trabalhadores se organizarem defendendo os seus interesses contra os exploradores, caminhando para a sociedade sem classes, para o socialismo.

São, portanto, dois conceitos de liberdade que estão em jogo.

Existe uma liberdade para os exploradores. Existe outra liberdade para os que são vítimas dessa exploração.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Foi esta segunda liberdade que os trabalhadores adoptaram.

Foi esta liberdade que esteve na base da sua concepção de liberdade sindical.

Esta é a liberdade que dá conteúdo à unidade sindical na lei. '

A outra liberdade dá conteúdo à forma «pluralismo sindical».

A unicidade traduz-se pela existência de um único delegado sindical por cada local de trabalho; na existência de uma única comissão sindical dentro de cada empresa; na existência de um único sindicato (por actividade) dentro da mesma área geográfica; na existência de uma única união de sindicatos dentro da mesma área; na existência de uma única central sindical nacional.

Uma voz: - E um único partido ...

por opção política ou religiosa, traduz-se na existência de vários delegados sindicais no mesmo local de trabalho, de várias comissões de delegados na mesma empresa, de vários sindicatos por ramo de indústria na mesma zona geográfica, de várias uniões sindicais e de várias centrais sindicais.

No conceito do pluralismo sindical não cabem os princípios da liberdade, democraticidade, representatividade e revogabilidade.

A liberdade que passa a existir é a liberdade de as forças reaccionárias colocarem todos os seus meios ao serviço da divisão dos trabalhadores.

É a liberdade da cunha divisionista e exploradora.

É a liberdade da existência de sindicatos paralelos que traduz o reconhecimento da liberdade de exploração.

Os sindicatos transformam-se em destacamento dos partidos, ficam a reboque das posições sectárias contra os interesses dos trabalhadores.