Subjacente a estas palavras recorta-se nítida a imagem a que o PCP nos tem habituado: tutor mau que chama à disciplina; professor de férula na mão; dono da revolução e da contra-revolução.
Burburinho na sala.
Vozes: - Abaixo a reacção!
O Sr. Presidente: - Peço para não interromperem o orador. Haja mais calma na discussão, como verdadeiros democratas que são.
Vozes: - Eles não são!
Nem a extrema-esquerda deve estranhar, pois também com ela brinca o secretário do PCP, chamando-lhe de extrema-direita. Enfim, nós somos o que somos...
Vozes: - Fascistas!
O Orador: - ... fazemos o que fazemos, independentemente do lugar e da marca que o PCP nos seus divertimentos nos aplique.
Explicação imediata e pública. A quem? ao PCP que nos habituou à coerência e à transferência de hoje se aliar a quem ontem chamou agentes da CIA e a quem amanhã enjeita envergonhado? Ao PCP que coseu com linhas de anedota e humor o seu comportamento quanto ao período de antes da ordem do dia desta Assembleia, cuja dissolução pediu?
Uma voz: - É falso!
Outra voz: - É verdade!
Burburinho na Sala.
O Orador: - Ao PCP de religioso ciúme perante o MFA, enquanto ia dizendo a Falacci que era amor a prazo, enquanto precisassem apenas dele?
Explicação imediata e pública. Explicar o quê? Que apoiamos incondicionalmente um Governo cujo programa exprime um acordo em que participámos e em cujo elenco participamos? Este PCP estranho, com um silêncio estranho em relação a um Governo que é também seu, convence-se narcisicamente que é possível passar de acusado a acusador. Pois, salvo melhor opinião, o que importa é que o PCP explique porque não apoia.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Explicar que fazemos comícios, manifestações? É porque não conspiramos e dizemos na praça pública o que diríamos a Oriana Falacci.
Ou será que o PCP, assume o papel de estéril a quem dói que os outros tenham filhos, que os outros entram sem camionetas nem tractores na Praça Humberto Delgado?
Vozes: - Muito bem!
Burburinho na Sala.
O Sr. Presidente: - Peço aos Srs. Deputados para não interromperem o orador.
Prosseguem as manifestações.
Vozes: - São os trabalhadores ...
Vozes: - Muito bem!
Aplausos.
O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António Campos.
O Sr. António Campos (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: É decisivo para o êxito da Revolução criar uma certa estabilização e ganhar a batalha da economia.
Se a demagogia produzida por esta Revolução tivesse a contrapartida nos centros de produção, com a sede de justiça social em que vivemos, tínhamos já construído o socialismo.
A realidade é outra bem diferente.
Da análise do país real passou-se à delinquência intelectual.
Do poder criativo passou-se à manipulação.
À noção do caminho e do tempo foi criado o imperativo «já».
Para se parecer mais revolucionário é fundamental ajeitar e fazer coincidir a nossa análise com um naco de Marx ou Lenine ou de qualquer outro revolucionário importado.
Cada um procura ser o mentor de cada um de nós.
Ah, mas para mim, o grande mentor desta Revolução continua escondido nas prateleiras das livrarias.
Cinquenta anos de frustrações, de opressão e de recalcamentos, uma guerra de catorze anos, onde a primeira preparação de cada jovem era aprender a arte