Em Maio, através da negociação directa com o patronato, conseguimos a aprovação de um caderno reivindicativo, contendo sete pontos, que nos proporcionava um salário mínimo de 4500$, férias, subsídios e a abolição total da segregação da mulher metalúrgica no que dizia respeito aos 20 % de desconto dos seus magros salários.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ficou acordado que o contrato seria revisto na totalidade em Janeiro de 1975.

E o que aconteceu?

O patronato reaccionário, inventando dificuldades, negou-se a cumprir aquilo que tinha sido acordado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Passados mais de dezasseis meses, podemos verificar que, nomeadamente em Viseu, Bragança e mesmo no Porto, centenas de processos estão em tribunal devido a os patrões se negarem ao cumprimento da lei, não por dificuldades reais, mas sim, na maioria dos casos, por sabotagem ou ganância de lucros.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A Federação e as direcções sindicais dos Metalúrgicos lutavam com esta situação paradoxal: por um lado, negociar novo contrato colectivo de trabalho, por outro, exigir a aplicação do que tinha sido acordado em Maio.

Mas as dificuldades nunca nos assustaram!... Entrando pelo caminho da verticalização do sector, procurámos contactar o patronato para iniciar as negociações directas nos primeiros meses do ano corrente. A situação foi-se arrastando até agora, face à indiferença do patronato, que desesperadamente esperava um novo 28 de Setembro ou 11 de Março salvador, não comparecendo às reuniões para que era convocado.

Para sair do impasse, negociámos directamente com o Governo, do que resultou a publicação da portaria em causa.

No entanto, o patronato metalúrgico, servindo-se da crise política e da viragem à direita verificada a nível das cúpulas militar e civil, passa do silêncio cobarde para a acção, afirmando por sua conta que a portaria é ilegal e q ue não a cumprirá! ...

Qual foi a reacção do Ministério do Trabalho?

Em lugar de tomar um atitude clara e firme contra o reaccionarismo do patronato, mantém-se em silêncio, dizendo mais tarde que vai ou irá estudar o problema.

Surge a primeira hora de paralisação, e a resposta do Ministério é, depois de muito falar em crise das empresas, afirmar a contragosto que á portaria é para se cumprir.

Os patrões reúnem-se no Casino da Figueira da Foz (parece-nos afinal que a crise não é generalizada) e afirmam claramente que «não negoceiam com cães»! ...

O Ministério continua em silêncio! ...

Para nós que vendemos a nossa força de trabalho só nos restava uma solução.

A greve!

Milhares e milhares de metalúrgicos afirmaram claramente que connosco ninguém brinca!...

Nós, operários, nunca vamos para uma greve com um sorriso nos lábios!...

Não admitimos é que a canga da burguesia procure assegurar os seus privilégios através da exploração e da contra-revolução! ...

É de lamentar que o Ministério através do Ministro e do seu Secretário não tivesse a hombridade de refutar a justeza dos pontos acordados perante os metalúrgicos, e se sirvam agora dos écrans da televisão para salvar a face acobardada perante o patronato.

Agitação na Assembleia.

Porque é que ...

Uma voz: - Provocador!

O Orador: - Cala-te, amarelo!

Burburinho na Sala.

O Sr. Presidente: - Pede-se a atenção.

O Orador: - Amarelo!

Uma voz: - Está-nos a insultar.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, pede-se atenção.

Não há direito nem autorização para interromper o orador. O orador está no uso da palavra.

As manifestações generalizam-se a um grande sector do hemiciclo.

O Orador: - Por que é que o Sr. Ministro procura atirar os camponeses contra os operários?

Sucedem-se diversas frases impossíveis de registar no meio do tumulto.

O Sr. Presidente: - Pede-se atenção e pede-se que não haja diálogo, que não é permitido. O Sr. Deputado está no uso da palavra.

O burburinho continua.

O Orador: - Não sabe o Sr. Ministro ...

Aumenta de intensidade a agitação.

O Sr. Presidente: - Pede-se atenção, Srs. Deputados. A Mesa exige atenção.

O Orador: - Deixe lá, Sr. Presidente, a burguesia manifesta-se.

Uma voz: - Burguês és tu!

Outra voz: - Provocador!

Outra voz: - Vai trabalhar!

O Sr. Presidente: - A Mesa exige atenção por razões que são dela e por razões que são do Sr. Deputado.

O Orador: - Não sabe o Sr. Ministro ...

Burburinho na Sala.