O Sr. Presidente: - Fazem favor de deixar prosseguir.
O Orador: - Não sabe o Sr. Ministro que nós, metalúrgicos, que estamos a auxiliar os camponeses com brigadas de fim de semana para ir arranjar os tractores, subsídios de 250 contos ...
Os apupos e vozes dispersas aumentam de intensidade.
O Sr. Ministro e o Sr. Secretário lembrar-se-ão dos camponeses quando estão a receber o cheque de dezenas de contos de salário?
Por que é que o Sr. Ministro afirma que a portaria é um acto fascista?
Por que é que o Sr. Ministro e o Sr. Secretário afirmam que é preciso trabalhar mais e ganhar menos?
Por que será que o Sr. Ministro e o Sr. Secretário afirmam que as empresas estão em dificuldades?
Que raio de Ministério do Trabalho é este?
Gera-se o pandemónio, que se prolonga durante algum tempo.
O Sr. Presidente: - Insisto em pedir atenção.
O Orador: - Então nós não temos dificuldades?
Uma voz: - Está calado, pá, vai trabalhar.
Outra voz: - Tens mesmo cara de ser trabalhador.
Os serviços em face do pandemónio gerado são impotentes para registar as palavras que se proferem.
O Sr. Presidente: - Insisto em pedir a atenção. Teremos de suspender a sessão, se continuamos assim.
O Orador: - Posso continuar, Sr. Presidente?
Pausa.
Posso continuar, Sr. Presidente?
O Sr. Presidente: - O orador pode, evidentemente, continuar.
O Orador: - Então nós não temos dificuldades?
Então uma portaria que nos vem dar aumentos salariais de cerca de 20 % é alguma coisa de extraordinário, se tivermos em conta que o custo de vida aumentou mais de 25 % desde Maio do ano passado?
Fomos nós, trabalhadores, que fizemos fugir pelas fronteiras mais de 6 milhões de contos?
Não considera a portaria na base IX que: «poderão ser estabelecidas tabelas salariais inferiores às que ficam consagradas nesta portaria desde que, perante razões fundamentais, designadamente a intervenção do Estado na empresa por motivos de dificuldades económicas ou financeiras ainda que transitórias, desde que haja acordo prévio com o sindicato maioritário da empresa»?
É este o Governo de salvação nacional?
Vozes: - É!
O Orador: - É assim que o Governo quer fazer a Revolução?
Vozes: - É!
O Orador: - Tal como no fascismo, nós mostraremos a força da classe operária e não tenhamos ilusões, Srs. Deputados.
Vozes: - Pois não!
Uma voz: - Vai trabalhar!
Outra voz: - Tu e o Américo Duarte sois a vergonha da nossa classe!
O Orador: - A tal base social de apoio ...
A agitação, as manifestações, os apupos e a troca de palavras impossíveis de registar prosseguiram em ritmo crescente.
O Sr. Presidente: - Peço particularmente aos meus camaradas do Partido Socialista ó favor de ouvirem o orador com compostura e dignidade.
Vozes: - Muito bem!
Aplausos.
O Orador: - A tal base social de apoio ao Governo ficará reduzida aos sectores da burguesia, porque quando os trabalhadores descobrem que são enganados esquecem a sua ideologia para fazer frente ao seu inimigo comum: o capitalismo! ...
Vozes: - Apoiado.
O Orador: - Com sincera alegria o digo! ... Na terça-feira, a meu lado, vi trabalhadores socialistas, comunistas e sem partido a lutarem pelos mesmos objectivos.
Uma voz: - Aldrabão!
O Orador: - Vi os meus camaradas da Lisnave, Sorefame, Mague, Cel-Cat, etc., que pouco ou nada beneficiarão com o CCT dos metalúrgicos, e que foram criticados pelo Sr. Ministro.
Uma voz: - Vamos a votos!
O Orador: - Aprendam connosco estas duas coisas muito importantes, Sr. Ministro e Sr. Secretário!... A solidariedade para com os nossos irmãos de classe foi coisa que sempre fizemos! ... A outra coisa é que, quando um operário da Lisnave ou da Sorefame sair destas empresas, encontrará um salário justo em qualquer fábrica, porque assim o exige a tabela mínima, cortando a liberdade ao patrão de dizer com orgulho que «até paga mais do que o Sindicato manda».
Sr. Presidente, Srs. Deputados! ...
A classe operária sabe que isto não vai ser fácil! ... Mas fiquem cientes, para trás é que isto não volta. Tenho dito.
Aplausos.
Pateada.
O Sr. Gualter Basílio (PS): - Magister dixit.