O período de antes da ordem do dia terminará...

Pausa.

Ainda há um requerimento para ler do lugar?

Sr. Deputado Mendes Godinho, tem um requerimento para ler no lugar?

Pausa.

Faça o favor.

O Sr. Mendes Godinho (PS): - Finalmente, Ramiro Valadão vai ser julgado. É acusado de ser o ladrão das migalhas do antigo regime. Acusado de ter amante paga pelos fundos públicos. A moral pequeno-burguesa poderá, enfim, descansar. O pequeno ladrão levará o justo correctivo.

Com o julgamento de Ramiro Valadão, com a sua condenação, serão julgados e condenados todos os crimes por punir do fascismo! Porquê Ramiro Valadão? A sua única culpa, o seu único azar, é ser pequeno e ridículo, não ter conseguido ser subsecretário, nem sequer ter sido Deputado. Num regime que primou por grandes negociatas e ladroeiras, Ramiro foi um palhaço de 3.ª ordem.

Os grandes responsáveis, os assassinos, os grandes ladrões, os torcionários, ou estão em liberdade, ou estão presos com culpa formada, ou estão presos sem culpa formada.

Esta Revolução não se fez para administrar justiça aos bobos da corte e aos eunucos. «Feliz o eunuco cujas mãos não cometeram a iniquidade». Obviamente, Vala dão não fez caso da recomendação do Livro da Sabedoria.

Sr. Presidente: Requeiro que pelo Ministério da Justiça me seja informado:

1.º Para quando o julgamento de todos aqueles que se encontram presos com culpa formada, verdadeiros assassinos e ladrões, cem vezes mais responsáveis que o Valadão;

2.º Para quando a definição do prazo limite para a inculpação dos presos sem culpa formada ou para a sua libertação;

3.º Para quando a inculpação dos verdadeiros responsáveis da opressão e da guerra a que esteve sujeito o povo português e que se encontram em liberdade somente a contas com a sua consciência, se a tiverem.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Sr. Presidente: - Repito a informação, que creio já ter dado, de que o período de antes da ordem do dia terminará às 16 horas e 35 minutos.

O primeiro orador inscrito é o Sr. Deputado Cunha Leal.

universais se poderia vir a definir a verdadeira vontade popular no tocante à gestão da coisa pública. E se, nessas circunstâncias, a nau nacional lograsse, como se supunha todos ambicionarem, atingir um porto seguro de salvação, não deveria haver quem com tal não rejubilasse, já que o sectarismo postergado saberia, por certo, encontrar consolo para as suas desditas no esplendor da pátria redimida.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Foi isso, porém, o que veio a acontecer?

Não, bem ao contrário.

É que, mau grado os protestos de adesão àqueles identificados propósitos do MFA, formulados então pelos responsáveis de todos os partidos, havia, não obstante, quem não estivesse nada interessado naquele fair play democrático.

Daí que, como escopo primacial do seu comportamento, desde logo se mostrasse animado do recôndito desiderato de alterar o curso normal do processo revolucionário de que era um dos intervenientes.

Esse partido, a que venho de me referir, era o PCP ...

O Sr. Pedro Roseta (PPD): - Muito bem!

O Orador: - ... o qual, sem embargo às declarações de puro conformismo democrático do seu secretário-geral, ao tempo produzidas em várias entrevistas, deliberou assenhorear-se, a todos os níveis, dos postos de comando da política, administração e economia nacional.

Uma voz: - Menos da tua ...

O Orador:- Qual a razão de semelhante atitude?

Eis o que importa elucidar.

É bem possível que, de início, mercê de uma errada perspectivação do ambiente de franca cordialidade e, até mesmo, de simpatia com que, após o 25 de Abril, foi o PC acolhido publicamente em Portugal, tal o tenha levado, como que por enebriamento, à precipitação da conclusão de que tinha assegurado uma forte implantação nas massas populares do País.

É bem possível.

Mas, de uma forma ou de outra, a verdadeira causa da sua determinação foi a certeza, para ele inabalável, de que, não sendo o 25 de Abril uma revolução comunista, se tornava imperioso o aproveitar-se da explosiva euforia ocorrente, das naturais indecisões