meu nome pessoal, mas dirigindo os seus ataques, para além da minha pessoa, ao PPD. Era de esperar. Era de esperar.

Acusaram-me de fascista . ..

Vozes: - E és!

Vozes: - Muito bem!

Burburinho.

O Orador:-... acusaram-me de fascista e, contudo, em 1939 ou 1940 ...

Uma voz: - Já lá vão tantos anos...

O Orador:-... quando um estudante da Faculdade de Direito que já havia terminado a licenciatura para obter a sua «carta» carecia ...

Burburinho.

... carecia de não perder o curso de Medicina Legal, não podendo dar mais nenhuma falta a determinada cadeira, tendo sido encarregado um comunista confesso de lhe assinar o papel que então circulava habitualmente entre os alunos para o efeito ...

Esse homem, Armando Porfírio Antunes Guerra, como a antiga PVDE tivesse então entrado dentro da sala e obrigasse a assinar os nomes sobre a mesa do professor, amedrontou-se, não o fazendo, pelo que me afirmou estar envergonhado. Pois um colega voltou àquela sala para, correndo todos os, riscos, assinar o nome do aluno em questão, ...

Uma voz: - Caramba!

O Orador: - ... que era Álvaro Cunhal. Nessa altura, não fui fascista.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Defendi, anos a fio, comunistas nos plenários portugueses, e honro-me de ser o único advogado deste País que, tendo assistido pela primeira e última vez a uma agressão, agressão vil e miserável, feita a um arguido, que nem sequer era meu cliente, ...

Burburinho na Sala.

Uma voz: - O homem está zangado ...

O Orador: - ... que nem sequer era meu cliente, chamado Jorge Araújo, que é pessoa grada no Partido Comunista. Ora, este advogado, que aqui está, saltou, em plena audiência, para o meio dos homens, agentes da PIDE, que barbaramente o agrediam e passou a ser agredido também, por o defender. Nessa altura, não era fascista.

Uma voz: - E agora?

Aplausos.

O Orador: - Sr. Presidente: Suponho ter também sido o único homem em Portugal que, em defesa de um comunista, cuja casa havia sido invadida por agentes da PIDE que o pretendiam levar, sem mandato de captura, para a cadeia, ao que se opôs, preveniu o então Primeiro-Ministro, Sr. Marcelo Caetano, de que lhe dava vinte minutos para fazer explusar aqueles homens da casa em questão, porque, a não ser assim, embora sabendo o que lhe ia acontecer, seria ele que os poria ou tentaria pôr da casa para fora.

E cumpri a minha promessa!

Ao fim dos vinte minutos ainda consegui pôr um dos agentes fora de casa, depois foram eles que me puseram entre a vida e a morte, durante dois meses, na cama de um hospital ...

Nessa altura, não era também fascista, e esse homem era, contudo, um comunista.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Aceitei, a pedido de alguém, alguém que já foi perseguido pela polícia política deste País e que se teve de exilar, ingressar no conselho de administração da Covina.

Uma voz: - Coitado ...

O Orador: - Mas fi-lo nestas condições: de me pôr sempre contra os interesses do meu mandante sempre que eles colidissem com os interesses dos trabalhadores da empresa.

E, invariavelmente, nos meus discursos, que eram reproduzidos em papéis colados nas paredes, cumpri o prometido. E mais: em pleno conselho de administração, ainda antes do 25 de Abril, eu agitei a possibilidade de uma nacionalização, porque aquela empresa era, na realidade, um monopólio de facto, nunca, depois disso, tendo deixado de a defender. E é agora, que a empresa está nacionalizada, tal como preconizei, que me vejo acoimado de fascista.

Muito pouco preza a honra própria quem assim procede contra a honra alheia.

É tudo quanto eu lhes queria dizer.

Aplausos prolongados.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado exerceu o seu direito de resposta, portanto estava dentro do que o Regimento lhe permitia, e, além disso, estamos na hora.

Pausa.

Se o Sr. Deputado Carlos de Brito quer fazer uma intervenção muito curta, excepcionalmente vou dar-lhe a palavra.

Agitação na Sala.

Vozes de protesto.

O Sr. Carlos de Brito (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quero esclarecer que não chamei fascista ao Deputado Cunha Leal.

Burburinho.

Vozes: - Mentiroso! Aldrabão!

Outras vozes: - Malandro!